Crédito da foto: Barão Fonseca
Uma performance admirável que desvela uma delicadeza genuína descreve a obra em que a bailarina Ana Paula Oliveira contracena com um pássaro. O projeto de dança multissetorial “Pé no Chão” vislumbra uma videoinstalação como palco e, como fruto da concepção dessa proposta, foi criada a obra de arte “Vôo Livre”. Uma aspiração que surgiu nesses tempos insólitos da pandemia – para a bailarina, na pausa também há movimento. E a inesperada inspiração da pardoquinha Lis redesenhou a poética da dança de Ana Paula. O resultado é intenso e desafiador.
Ana Paula assina a concepção, direção artística e coreográfica de “Pé no Chão” e contou com uma parceria preciosa: Eder Santos, um dos maiores nomes da multimídia no Brasil e no exterior, que assina a direção audiovisual da videoinstalação. O público vai ter o prazer de conhecer “Pé no Chão” no dia 20 de junho, em live de lançamento no canal do Youtube da Apu Produções, a partir das 15 horas. Além da exibição da performance e da videoinstalação, a tarde de domingo terá bate-papo com os artistas envolvidos.
Diante das impossibilidades impostas pela pandemia neste momento, a obra de arte “Vôo Livre” , criada a partir do projeto, teve sua concepção moldada para ser exibida online e passa a perceber novos olhares. Eder Santos imprime neste trabalho sua extensa experiência em projetos híbridos, que envolvem novas mídias, vídeo, artes visuais, cinema, dança e teatro. Ele tem obras nos acervos permanentes do MoMA (NY) e Centre George Pompidou (Paris), além de extensa participação em bienais e festivais no Brasil e no exterior, e uma premiada carreira como realizador e diretor de cinema e TV.
Compõem a equipe de Eder Santos, Leandro Aragão, criador do objeto da videoinstalação; e Barão Fonseca, que assina a fotografia da obra – ambos são sócios de Eder Santos na Trem Chic Cine Video Lab., colaboradora na realização audiovisual de “Pé no Chão”. “Foi uma aventura realizar esse projeto. Lis é bonitinha demais e parecia que estava entendendo tudo e adorando dançar com a Puia (Ana Paula) durante a gravação”, conta Eder.
A música apresenta diversos elementos sonoros, inclusive os emitidos pela pardoquinha Lis. A trilha sonora original foi composta pelo músico, compositor e bandolinista Marcos Frederico e contou com a participação especialíssima do músico Paulo Santos – percussionista, multi-instrumentista, compositor e co-fundador do Grupo Uakti.
“A criação da trilha foi um processo bem natural e leve. Fui tocando junto com a Lis, experimentando com a Puia (Ana Paula), sempre com o instrumento na mão”, conta Marcos Frederico. “Quanto ao conceito da trilha sonora, eu pensei muito nos envolvidos. A primeira parte é mais melódica, mais clássica e tem referências do interior de Minas. A segunda parte da trilha é mais urbana, mais ousada, experimental”, afirma.
O trabalho musical peculiar de Paulinho Santos entra trazendo para a trilha sonora novas texturas, que resultam em efeitos sonoros distintos. “A música conta a história de Lis ter sido encontrada no mato e depois vivendo na cidade. Esses dois cenários são bem claros”, diz. “A passarinha gostou do meu som. Eu fui aprovado pela atriz principal, a Lis”, brinca Paulinho, que destaca também a parceria com Eder Santos. “Éder é meu parceiro de muitos trabalhos, há muitos anos, e sempre com um alto nível de excelência”, ressalta o músico.
O figurino completa a realização da obra que contou com a colaboração de Janaina Castro, bailarina, que também atua como figurinista e diretora de arte pela Blecaute Produções.
Internacional – Vale destacar que a obra já foi convidada para participar da Arco, feira internacional de arte contemporânea, em Madrid, no próximo mês de julho. No exterior, a obra recebe o nome “Fly to be Free”.
A bailarina e a pardoquinha Lis
“Pé no Chão” surgiu da necessidade de Ana Paula se reinventar para seguir adiante. “A partir dessa busca, através de profundos mergulhos por meio da dança e da psicanálise surgiu a inspiração para a obra”, explica com a seguinte premissa metafórica: “com os pés no chão, o vôo alçado alcança maiores distâncias…”
Ana Paula compreendeu contracenar com um pássaro na sua coreografia durante o processo criativo. A inspiração para essa linguagem poética surgiu do resgate da recém-nascida pardoquinha Lis depois de uma noite de vendaval, durante uma das imersões do processo criativo da bailarina no campo. “Como o ninho não foi encontrado e muito menos os pais apareceram, Lis passou a fazer parte da minha vida”, lembra Ana Paula. “ Lis é sobrevivente, um milagre! E além de tudo, trouxe uma alegria mágica pra minha dança que vem sendo ressignificada”, completa. Nesta história inusitada, Lis se identifica com a bailarina como “bando”, de acordo com o parecer do biólogo Lucas Assis, que acompanha todo o desenvolvimento da pardoquinha. E essa identificação profunda permitiu um trabalho único.
Trajetória de possibilidades
A poética da dança da bailarina Ana Paula Oliveira, hoje portadora bilateral de prótese de quadril, foi sendo reinventada ao longo de sua trajetória pessoal e profissional. Somada às infinitas possibilidades da arte, sua dança ganhou asas e a alavancou para lugares até então inimagináveis, dançando para além dos palcos, sempre em “pas-de-deux” com a magia da música.
Ana Paula tem 20 anos de carreira profissional e foi integrante do Grupo Corpo, Cia de Dança do Palácio das Artes, Grupo 1º Ato, Grupo Meia Ponta e Grupo Camaleão até ter a profissão precocemente interrompida, devido a um acidente no palco, em 2009, na estreia do balé “Ímã” do Grupo Corpo.
Nessa trajetória de duas décadas de dança, Ana Paula buscou valorizar seu trabalho constantemente, experimentando diversas linguagens da dança contemporânea. Seu trânsito pelos diferentes e principais grupos e companhias profissionais da dança mineira lhe possibilitou trabalhar com diferentes coreógrafos e artistas.
Ao longo dos últimos 11 anos, a bailarina que contabiliza uma carreira profissional de duas décadas e graduação em Direito, se viu às voltas com a arte de diversas formas, tanto nos bastidores de grandes projetos quanto em pontuais performances realizadas por ela – onde vem mesclando a dança com outros setores artísticos e culturais como a música, o audiovisual, as artes plásticas, a moda e até mesmo a psicanálise.
Atualmente, além de realizar performances e atuar no campo das artes pela Apu Produções, Ana Paula Oliveira é estudante de psicanálise no Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais (IPSM-MG) e integrante do grupo “Tru-no-Ar” – coordenado pelo psicanalista Sérgio de Mattos para os boletins Ecos da 25ª Jornada da Escola Brasileira de Psicanálise-MG: “As pulsões são, no corpo, o eco do fato de que há um dizer”.
“A psicanálise se tornou minha outra grande paixão além de dançar. Fazer dança depois do acidente, que foi muito traumático é fruto de anos de muita análise. Mergulhei profundamente nessa arte”, conta Ana Paula.
Ficha Técnica
Concepção, direção artística e coordenação geral: Ana Paula Oliveira
Dança: bailarina e coreografia: Ana Paula Oliveira
Inspiração e participação especial: Lis
Música: composição de Marcos Frederico e participação especial de Paulo Santos
Gravação: Liquidificador Estúdio
Audiovisual: direção de Eder Santos; fotografia, cenografia e iluminação: Barão Fonseca; criação objeto videoinstalação: Leandro Aragão; assistente de fotografia: Zinho Araujo; contra-regra: Enoque Alex Ananias; marcenaria do objeto: Henrique Fonseca; Prototipagem e marcenaria do objeto: Henrique Fonseca
Locação e colaboração na realização audiovisual: Trem Chic Cine Video Lab.
Figurino: Janaina Castro
Apoio: Gabriel Pederneiras (Grupo Corpo). Vitória Wilden (Vitória Cirúrgica). Patricia Laguardia e Angela Laguardia (Madreperola). Luciana Tanure (Quixote +Do).
Produção executiva e colaboração na realização: APU Produções
*Projeto contemplado pela Lei Aldir Blanc MG, edital 18/2020.
Serviço
Lançamento Pé no Chão, com Ana Paula Oliveira e Lis executando “Vôo Livre”
Dia 20 de junho de 2021
Domingo, às 15h
Local: Virtualmente – Transmissão online pelo canal do YouTube APU Produções – https://www.youtube.com/c/APUproducoes
Ingresso: Grátis