Aconteceu em 05/06/2014, no Teatro Sérgio Cardoso, a coletiva de imprensa para o lançamento do ballet “A Sílfide” com a São Paulo Companhia de Dança, que entrará em cartaz na essa semana. Representando o Agenda de Dança, eu estive presente no evento e trago para todos, em primeira mão, todas as novidades sobre essa nova montagem.
A São Paulo Companhia de Dança (SPCD) foi criada em janeiro de 2008 pelo Governo do Estado de São Paulo. Sob a direção de Inês Bogéa, já foram produzidas 31 obras, sendo 16 remontagens e 15 coreografias inéditas, que vão do clássico ao contemporâneo. Em seu sexto ano de vida, a SPCD traz pela primeira vez ao palco do Sérgio Cardoso uma obra ícone do Romantismo: “A Sílfide” (La Sylphide no original), sua segunda peça narrativa. Esta é considerada um marco na história da dança, pois foi o primeiro ballet a ser dançado com tutus esvoaçantes e sapatilhas de ponta.
O tema dessa temporada é Passado-Futuro, e a ideia que a organiza, segundo Inês, “é a tradição viva no corpo de hoje, um presente intenso impregnado de passado sugerindo um futuro”. A escolha desse repertório não foi simplesmente aleatória, pois sua história como um todo retoma a própria trajetória da companhia. Penso eu que assim como o Ballet passou por um longo processo de desenvolvimento e chegou ao seu ponto culminante em 1832, com o lançamento de “A Sílfide”, a SPCD construiu a sua história, iniciando com a produção de obras de menor porte, mas de grande peso no cenário da dança mundial. Poder interpretar um Balanchine (Serenade) e um dos legados deixados pelo Ballets Russes (Les Noces), ao lado de duas criações logo no primeiro ano, é um privilégio! O tempo foi passando, o número de estreias aumentando, e com a experiência adquirida, a companhia atingiu o grau necessário para levar a público uma peça tão importante! E cá entre nós, é uma alegria muito grande ver um ballet de difícil acesso ser reconstruído nos corpos dos bailarinos da São Paulo!
Durante a coletiva tivemos o prazer de assistir o segundo ato deste repertório. Ao ver a cenografia e aquela profusão de tutus brancos em cena, me senti como se estivesse realmente em um conto de fadas. A música contribuiu para que eu ficasse ainda mais arrepiada diante de tamanha beleza! Mas tudo o que presenciamos foi apenas um aperitivo do grande espetáculo que está por vir… Logo após, conversamos com o responsável pela remontagem deste clássico para a SPCD: o argentino Mario Galizzi. Que pessoa encantadora! Com seu “portunhol”, ele nos contou algumas curiosidades à respeito dessa obra. Segundo seu relato, August Bournonville havia se apaixonado por “A Sílfide” desde que vira a apresentação da Ópera de Paris, e era seu desejo levar esse repertório para o Royal Danish Ballet. Porém, na época, os recursos financeiros e a tecnologia disponível não eram suficientes para que eles realizassem na Dinamarca o mesmo feito da companhia francesa. Por isso, ele encomendou uma nova partitura, que foi composta por Herman Løvenskiold, e revisitou o tema explorado pelo coreógrafo Fillipo Taglioni à sua maneira: a duração da peça foi reduzida para uma hora (na versão original são duas horas), o primeiro ato ganhou um ar mais folclórico, com a presença das danças caráter de origem céltico-escocesa, deixando as sapatilhas de ponta apenas para as sílfides. Outra diferença está na maior participação dos homens como bailarinos, interpretando solos vigorosos e de alta complexidade, a fim de mostrar todo seu talento técnico e artístico.
Mario ainda conta que teve a oportunidade de dançar a produção reconstruída por Pierre Lacotte a partir da original de 1832 (pertencente ao repertório da Ópera de Paris), para ele foi uma experiência magnífica! Mas foi com a versão de Bournonville que ele ficou verdadeiramente impressionado, e desde então se sentiu atraído pela ideia de remontar a obra, feito que realizou para várias companhias, sempre procurando ressaltar as particularidades de cada uma. Com a São Paulo Companhia de Dança não foi diferente… Ele viu nos bailarinos um potencial tão grande que não podia simplesmente deixá-los parados durante as pantomimas (encenações) do primeiro ato, e por isso mesmo o recriou, deixando-o mais dançante que o original. O segundo ato coloca o estilo romântico em evidência, e é mais parecido com a versão de Taglioni. “Fiz a reconstrução de acordo com o que vivi como bailarino e também trabalhei com anotações que havia no museu da Ópera de Paris”, comenta Galizzi.
A Inês também conversou conosco. Ela falou um pouco sobre a preparação para a estreia, cujo trabalho foi feito de forma completa. Tanto bailarinos como toda a equipe de produção tiveram aulas de História da Dança, afim de criar uma sintonia para que tudo aconteça da melhor forma possível. Para os figurinos, duas profissionais foram requisitadas: Beth Filipecki, que costuma fazer reconstituição de época para a Rede Globo, cuidou do guarda-roupa escocês. Ela foi tão cuidadosa que cada uma das famílias presentes na peça ganhou o seu próprio padrão de xadrez, para facilitar o entendimento do público. Já as sílfides foram vestidas por Marilda Fontes, figurinista especializada em tutus românticos. Estes eu posso afirmar: estão lindíssimos, tal qual um sonho… Fiquei emocionada!
E ainda segundo a diretora, a montagem de Bournonville, além de ser mais concisa e intimista, ela é maleável e permite uma melhor adaptação a teatros de todos os portes, facilitando a circulação deste espetáculo. Ela conta que uma das apresentações que serão feitas após a estréia será completa e com orquestra ao vivo! Que presente para os bailarinos…
Mas afinal, que história é contada neste ballet? De forma resumida, ele se passa em uma fazenda da Escócia, e fala sobre o amor impossível de um humano por um ser etéreo, uma sílfide. Segundo as tradições celta e germânica, ela é um elemental do ar, representada na forma de uma mulher frágil, delicada e que possui asas. É nesse contexto que observamos os encontros e desencontros amorosos que se desenrolam no decorrer da peça… O que será que vai acontecer? Fica o convite para vocês conferirem essa maravilhosa produção!
Ficha Técnica:
A Sílfide (1836)
Coreografia: Mario Galizzi, a partir da obra de August Bournonville (1805-1879)
Música: Herman Løvenskiold (1815-1870)
Cenário: Marco Lima
Iluminação: José Luis Fiorruccio
Figurinos: Beth Filipecki e Marilda Fontes
Personagens Principais:
A Sílfide, ser alado da floresta – Luiza Lopes ou Luiza Yuk
James Ruben, fazendeiro – Emmanuel Vazquez ou Yoshi Suzuki
Effie, sobrinha de Ana, noiva de James – Ammanda Rosa ou Pamela Valim
Gurn, administrador da fazenda – Joca Antunes ou Rodolfo Saraiva
Madge, a feiticeira – Ana Paula Camargo ou Michelle Molina
As apresentações acontecem no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.
Dias 11, 14, 19 e 21 de junho (1º elenco) e dias 13, 15, 20 e 22 de junho (2º elenco)
Quarta, Quinta e Sábados às 21:00
Sextas às 21:30
Domingos às 18:00
Todos os dias, 45 minutos antes de cada seção, acontece o Por Dentro do Espetáculo, um bate-papo descontraído com Inês Bogéa sobre as curiosidades do programa que será apresentado naquela noite. Além disso, os espetáculos dessa temporada contam a plataforma Whatscine, que transmite para tablets e smartphones recursos de audiodescrição, interpretação em LIBRAS e legendagem para portadores de necessidades especiais. Segundo Marcela Benvegnu, coordenadora de Educativo, Memória e Comunicação da companhia, essa tradução é feita de forma poética para ajudar esse público a criar uma imagem com o maior riqueza de detalhes possível, para que eles também possam sentir a emoção de cada apresentação.
Os ingressos podem ser adquiridos no site Ingresso Rápido, e na bilheteria do Teatro Sérgio Cardoso, que funciona de quarta à domingo, das 14:00 às 19:00.
Endereço: Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista, São Paulo/SP
Um grande abraço à todos!!!