Temporada de Dança Dell’Arte – Rio de Janeiro 2014
A temporada de dança carioca em 2014 contará com as apresentações de dois dos maiores ícones da dança de todo o mundo: da Espanha, o público carioca assistirá a “Fuego”, uma das principais peças do repertório do maior nome do flamenco de todos os tempos, a Compañía Antonio Gades. Da Rússia, a Dell’Arte traz o consagrado Kirov – Ballet do Teatro Mariinsky de S. Petersburgo, que apresentará “O Corsário” e uma noite de “Gala”.
As apresentações acontecem no Theatro Municipal e os ingressos para as noites dedicadas aos assinantes – 28 de setembro, às 16 horas (Cia Antonio Gades); 13 de novembro, às 20h30 (Kirov: O Corsário); e 16 de novembro, às 16h (Kirov: Grande Gala) – já estão à venda até o dia 30 de maio.
Além dessas datas que fazem parte da série, a Compañía Antonio Gades fará outra apresentação no Rio de Janeiro, no dia 27 de setembro. O Kirov terá mais três datas no Theatro Municipal, dias 12, 14 e 15 de novembro, todas com “O Corsário”. Os ingressos para estes espetáculos isolados começam a ser vendidos no dia 1º de junho.
A Compañía Antonio Gades leva “Fuego” também para Curitiba, dia 24 de setembro, no Guairão; Porto Alegre, dia 25 de setembro, no Teatro do Bourbon Country; São Paulo, dia 30 de setembro, no Teatro Alfa; e Salvador, dia 03 de outubro, no Teatro Castro Alves.
O Ballet do Teatro Mariinsky – Kirov fará apresentações também em São Paulo, no Teatro Alfa – dias 19, 20, 21 e 22 de novembro (duas sessões no dia 22), com “O Corsário”, e dia 23 com “Grande Gala”. Os ingressos para as apresentações nas outras capitais começam a ser vendidos em breve.
A Temporada de Dança Dell’Arte – Rio de Janeiro 2014 faz parte do Circuito Cultural Bradesco Seguros, que apresenta para o público brasileiro um calendário diversificado de eventos artísticos com espetáculos nacionais e internacionais de grande sucesso, em diferentes áreas culturais como dança, música erudita, artes plásticas, teatro, concertos de música, exposições e grandes musicais.
Compañía Antonio Gades
Em comemoração ao 10º aniversário da morte de Antonio Gades (1936-2004), ícone maior da dança flamenca, a Dell’Arte traz ao Brasil um de seus principais espetáculos, “Fuego”. Após o desaparecimento do mestre, sua companhia foi mantida com o objetivo de preservar o legado do grande bailarino e coreógrafo, responsável pela renovação da linguagem do flamenco, sem afastar-se de suas origens. Concebido por Gades e Carlos Saura, “Fuego” é inspirado no balé El Amor Brujo, de Manuel de Falla, e estreou no Théâtre du Châtelet em Paris, em 1989.
Gades nasceu na província de Alicante, no seio de uma família humilde. Seu pai, republicano, em seguida ao nascimento do filho, seguiu para Madrid para defender, como voluntário, a República Espanhola. Posteriormente, toda a família se mudou para um bairro na periferia da capital espanhola. O encontro de Gades com a dança aconteceu casualmente, por fome, como costumava contar, quando tinha 15 anos. Uma vizinha lhe havia aconselhado que se inscrevesse na academia de flamenco. Três meses mais tarde um agente que buscava bailarinos para uma casa noturna o contratou. Nesta casa, foi visto por Pilar Lopez que o chamou para sua companhia. Foi Pilar quem o batizou com o nome artístico de Antonio Gades e lhe ensinou que a ética profissional do baile está acima da estética. Gades a reconhece como a inspiradora máxima de sua carreira. Gades permaneceu na companhia de Pilar Lopez por nove anos, e, em 1960, quando fez sua primeira excursão ao Japão, já era primeiro bailarino.
Em 1974, estreou em Roma, “Bodas de Sangre”, inspirado no drama de Garcia Lorca, obra prima que lhe trouxe sucesso internacional. Foi diretor do Balé Nacional de Espanha entre 1978 e 1980, que deixou para fundar sua própria companhia. Em 1981, em colaboração com o diretor Carlos Saura, transforma “Bodas de Sangre” em filme. A colaboração seguiu em 1983, com o filme “A história de Carmen”. As adaptações cinematográficas renovaram o interesse dos espanhóis pela dança flamenca.
Gades comentou antes de sua morte que o projeto mais importante de sua vida seria a Fundação Antonio Gades e a criação de sua companhia de dança, que colocasse em cena as cinco grandes obras de Antonio: a “Suite de Flamenco” de 1968, “Bodas de Sangre” de 1974, “Carmen” de 1983, “Fuego (Amor Brujo)” de 1989 e “Fuenteovejuna” de 1994. A Companhia é dirigida por Stella Arauzo, que aos 17 anos ingressou na então companhia de Gades e foi sua parceira por mais de 20 anos.
Desde 1988, Stella encarna a Carmen de Gades, sendo considerada inigualável no papel da carismática heroína. Considerada atualmente uma das maiores bailarinas do mundo, Stella foi escolhida pessoalmente por Gades para dirigir sua companhia, antes de seu falecimento.
Ballet do Teatro Mariinsky (Kirov)
Em sua volta ao Brasil o Ballet do Teatro Mariinsky traz um dos mais famosos balés do repertório clássico de todos os tempos. “O Corsário” estreou no Théâtre Impérial de l’Opéra de Paris em 1856, com música de Adolphe Adam e coreografia de Mazilier. Dois anos depois estreava em São Petersburgo, com coreografia de Jules Perrot, posteriormente modificada por Petipa. Foi nesta formatação que “O Corsário” se tornou um dos grandes sucessos do Ballet Marrinsky, e veículo privilegiado para o brilho de seus solistas.
Além de “O Corsário”, o Kirov apresenta no país um espetáculo reunindo grandes momentos da arte coreográfica, apresentados por alguns dos maiores nomes do balé da atualidade – a “Grande Gala”. A Grande Gala abre com a célebre Chopiniana, também conhecida como Les Sylphides, com coreografia de Mikhail Fokine. Segue-se a segunda parte do programa com dois números: O Espectro da Rosa e A Morte do Cisne — grandes clássicos do balé da primeira metade do século XX — ambos assinados também por Fokine. O espetáculo encerra com um Divertissement, onde se destacam o “grand pas” de Don Quixote e Diana e Acteon.
A história da mais celebrada companhia de balé do mundo começou com Jean-Baptiste Landé em 1738. O mestre de dança francês chegou a São Petersburgo a chamado da Imperatriz Anna Ioannova, com uma missão específica: fundar uma escola de dança. Esta instituição, origem da famosíssima Academia de Balé Vaganova, era destinada aos filhos dos criados do palácio. Ou seja – o nobre balé russo, já com 276 anos de existência, nasceu plebeu. O desejo da Imperatriz Catarina II, que sucedeu a Anna Ioannova, era fazer de São Petersburgo a capital cultural do Norte Europeu, rivalizando com a fervilhante Viena da Imperatriz Maria Teresa. Catarina não poupou esforços. Foram chamados os mais importantes mestres de bailado da Europa Ocidental.
Nos anos que se seguiram, alguns dos principais nomes da história da dança passaram pelos quadros do Kirov: Charles Louis Didelot, o coreógrafo Filippo Taglioni com sua irmã, a bailarina Maria Taglioni, a dançarina Fanny Elssler, Christian Johannsen, o coreógrafo Jules Perrot, o mestre de bailado Arthur Saint-Léon. Mas foi Marius Petipa o responsável pela grande eclosão do balé russo e pela criação de espetáculos que ainda hoje encantam o público. Petipa tinha 29 anos quando chegou a São Petersburgo em 1847, como bailarino e coreógrafo. A grande contribuição de Petipa foi ter logrado realizar a síntese de dois estilos de dança estrangeiros: o italiano e o francês, que eram diametralmente opostos. Esta simbiose, aliada aos temas russos e a sua música apaixonada, deu origem a um produto híbrido: o balé acadêmico russo, que reunia o melhor de todos os mundos. A arte da dança deve ainda a Petipa o equilíbrio entre mímica e dança, os ensembles do corps de ballet e as regras precisas na sequência do pas de deux. Ao apagar das luzes do século XIX, os bailarinos russos já rivalizavam e até superavam os virtuosos italianos.
Mas a revolução política e o sopro da renovação que estavam no ar na aurora do século XX não poderiam deixar de atingir o Ballet de São Petersburgo. Produtos da escola de São Petersburgo como Karsavina, Pavlova e Nijinsky lideravam uma nova onda de genialidade na dança, impondo uma nova imagem do balé russo. Nos anos 20, a partir dos trabalhos de preservação da tradição do balé, nascia o balé soviético, agora orientado para a nova audiência proletária e com obras que fizeram a companhia ser o que hoje representa para a história do balé mundial.
Com o fim do comunismo, a queda das barreiras ideológicas e a crescente integração da Rússia ao bloco ocidental, o Kirov Ballet do Teatro Mariinksy permanece um marco e referencial obrigatório para todo o mundo do balé. Mais que um santuário da dança clássica, a companhia é uma constante fonte de inspiração, um patrimônio cultural mundial da arte da dança, reverenciado em todo o mundo.
Fonte: Midiorama