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Seu futuro na dança pode estar ameaçado

Crise econômica, desinteresse, falta de formação. Entenda como a dança vive um momento delicado para atuais e futuros bailarinos.

Capacidade de raciocínio, linguagem e pensamento. Foram esses detalhes que diferenciaram o homem dos demais animais e nos levou ao estágio de evolução que vivemos hoje entre nossos amigos e familiares. Como forma de expressar nossa criatividade, usamos nosso raciocínio para interpretar nossos pensamentos em diferentes linguagens. Daí surgiram algumas formas de arte (vamos relembrar as aulas de história da arte, mas é rapidinho): arquitetura, dança, escultura, música, pintura e poesia. É claro que, com a evolução da tecnologia, novas formas de arte foram criadas e provavelmente continuarão surgindo surpresas. Ou talvez não.

Foi por meio da arte que o homem reproduziu sua curiosidade em relação aquilo que ele não compreendia: religião, magia (não é a toa que esses são os temas de muitas pinturas descobertas no período paleolítico). Foi também por meio da arte que muitas compreensões foram reproduzidas. Por que então as obras de Shakespeare nos parecem tão impressionantes e ao mesmo tempo, esclarecedoras? E para citar um exemplo mais moderno, temos Banksy, com seus graffitis provocantes ao redor do mundo sobre temas tão delicados e ao mesmo tempo tão cotidianos.

O que queremos dizer com tudo isso

O que podemos observar ao longo da história é que, sem dúvida, a arte sempre esteve presente e foi fundamental para o desenvolvimento da nossa identidade enquanto indivíduos. Representava nossos medos, desejos. Nosso ponto de vista em relação a si mesmo e aos outros. Como disse René Huyghue:

“a obra não põe apenas em jogo a psicologia do artista, mas também a do espectador. Que procura nela, que recebe dela e por que razão a sente!”

Será que é mesmo um bom caminho deixarmos tudo isso de lado nas próximas gerações? O que queremos dizer é que tem sido uma fase dura para nossos artistas. A falta de recursos e apoio do governo tem feito com que muitos trabalhos tenham de ser abandonados. Na área de dança, a situação não é diferente e não é raro encontramos situações como essas que listamos aqui:

Ballet Stagium

Foto: Divulgação

A companhia com 46 anos de existência apresentou o espetáculo “O Canto da Minha Terra” e o objetivo é reunir assinaturas para uma petição pública de subsídio. De acordo com nota divulgada à imprensa, a cia diz que “O Stagium tem resistido bravamente com suas próprias pernas e méritos… o fôlego não acabou, mas a situação agora é insustentável e sem ajuda governamental fecharemos as portas.”

Quasar

Foto: Divulgação

Com 28 anos de existência, a cia já anunciou que deve paralisar suas atividades devido a problemas financeiros. O contrato com o principal patrocinador (Projeto Petrobras Cultural) encerra-se esse ano e a direção confirmou já ter reduzido o quadro de bailarinos contratados e contou que todos os outros funcionários estão cumprindo aviso prévio.

VI Edição da Gala Clássica Internacional

Foto: Divulgação

Realizado a 5 anos, o Gala Clássica Internacional busca realizar workshops com professores internacionais, audição para a Escola do Bolshoi Brasil, produzir espetáculos de dança clássica de qualidade e proporcionar o intercâmbio entre bailarinos renomados mundialmente e estudantes brasileiros. Nas últimas semanas, a organização se manifestou dizendo que, mesmo com a aprovação da Lei Rouanet para o projeto, não houve captação necessária para a realização da 6ª edição.

XII Edição do Festival Internacional de Dança de Cabo Frio

Foto: Divulgação

O evento que tinha inscrições confirmados de cias nacionais e internacionais foi cancelado devido a falta de patrocínio. Segundo os organizadores, o evento esse ano aconteceria sem o apoio da Prefeitura e seria necessário arrecadar verba com empresas privadas. Infelizmente, o valor não foi arrecadado.

Cisne Negro

Foto: Divulgação

Também em 2015, Hulda Bittencourt, fundadora e diretora do Cisne Negro, conta em entrevista que não havia patrocínio que pudesse garantir os salários dos profissionais envolvidos e os custos das produções, o que faz com que a cia dependa da venda de seus espetáculos para sobreviver.

Ballet Jovem

Foto: Divulgação

No ano passado, a Cia que já havia passado em 26 cidades brasileiras, além da Dinamarca e Suécia, se deparou com o repentino encerramento das suas atividades. O projeto era financiado por leis de incentivo à cultura, mas não houve captação de recursos suficientes para que continuassem. Felizmente, esse ano o ballet Jovem “renasceu das cinzas” e segue de forma independente, ensaiando no Núcleo Floresta em MG.


Entre nós, bailarinos

Entre os motivos que poderiam contribuir para a falta de interesse do governo e até de empresas de oferecer patrocínios para as companhias e eventos de dança, poderíamos pensar em fatores como ausência do ballet na cultura do nosso povo. Essa ausência não é por acaso, já que a falta de acesso a esse tipo de arte durante a formação de cada geração influencia diretamente a construção desse paradigma. Aulas, roupas, sapatilhas, piso apropriado formam um conjunto de custos que faz com que o ballet seja algo caro, então, os alunos se encontram numa situação onde é necessário abandonar a dança. E é um ciclo, se observamos bem: menos alunos, menos profissionais, menos companhias, menos vagas, menos interesse por um mercado tão restrito e escasso.

Talvez os patrocinadores tenham entendido que já não é mais necessário investir em algo que tem um fim certo? Precisaremos inovar a maneira como tratamos a dança para garantir o futuro dessa arte?

 

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