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Prelúdio da Mãe Preta – O desvelar de um vômito cênico, na Arena Carioca Dicró

Partindo da inquietude de uma negra acadêmica de Dança, angustiada com um currículo em que não se sente contemplada, já em fase de formação, surge a urgência de promover ações e instigadas a uma sociedade racista e opressora. Na figura da Mãe Preta, segue uma rota marginal na intenção de provocar reflexões nos que se dispõem a testemunhar, seu coletivo vômito negro.

Isa Oliveira é artivista e acadêmica, dá vida a Isaura, através da união de discursos presos na garganta de seus irmãos de causa e irmãs na lida. Muitas vezes ignorados pelo macro popular.

A união de uma pesquisa etnográfica das aparições da Mãe Preta na história, literatura e imaginário popular, somando-se a realidade atual das mães de luto, respingam no sonho de menina da performer que assina a autoria da obra. Desde o momento em que acompanhou o nascimento de uma irmã que foi encomendada aos Deuses, desejou viver essa potência do corpo-materno-gerador de vida.

A cruel realidade de uma sociedade genocida, os constantes relatos silenciados que permeiam as violências obstétricas sofridas na maioria das vezes pelas mulheres negras, a solidão dessas mulheres mães solteiras, o descaso da sociedade, dos ‘homens de bem’, o julgamento dos que estão do lado de fora da situação, a preocupação da mãe na espera do rebento que brinca na rua… e some… Todos esses atravessamentos provocam uma náusea que promove um vômito cênico coletivo. Com a parceria de camaradinhas artísticos, talentosos e pretos. Filhos de Mães Pretas.

“O Brasil é o país onde mais se mata no mundo, sua taxa de violência crescente, ultrapassa as estatísticas de mortalidade em zonas de guerra”.

Cerca de 170 mil pessoas foram mortas nos 12 maiores conflitos mundiais que ocorreram de 2004 a 2007, no Brasil foram mais de 192 mil homicídios no mesmo período. Mas a violência, não atinge toda a população brasileira de maneira igual, afeta principalmente os jovens de 15 a 29 anos , que em 2012 foram a maior pate morta por homicídios.

Nos dados obtidos referentes aos últimos dez anos, levando em conta a cor destes jovens que estão perdendo suas vidas, enquanto as estatísticas da mortalidade do jovem branco diminui, a taxa para o jovem negro aumenta cada vez mais.

Diariamente, acompanhamos nas notícias, a anunciação destas mortes pretas; seja pela grande mídia, seja pela mídia alternativa, seja por mensagens de conhecidos, parentes, vizinhos. O jovem negro é o que mais morre. Percebe-se um genocídio.

Isaura é mãe de alguns.
Mulher forte, guerreira, solteira e grávida de mais um.
Mais um rebento preto está prestes a nascer.

Beirando a loucura, Isaura vomita suas confissões pré-parto na arena de força que se forma ao seu redor. Através da teia de atenção, solidariedade, afeto e contágio, desaba, dá a luz e renasce em meio as indagações que insurgem em seu corpo presente e resistente que Re-existe a cada lampejo de esperança.

– bota-se o filho no mundo e não sabe-se até quando irá cantar. Uma frase negra.

Um espetáculo que transita entre as linguagens da dança, teatro e a mandinga capoeira de Dandara. Em fase de experimentação artística.

Contemplados em um edital de ocupação da Arena Carioca Dicró, JAM – Junta Artística Margenow – um coletivo de artistas integrados que subverte o centro inserindo os olhares à margem, inaugura sua circulação nacional com a obra coletiva Prelúdio da Mãe Preta. Uma equipe composta por filhos pretos com o lugar de fala sobre as dores, lamentos e superações de suas Mães biológicas, espirituais, ancestrais.

SOBRE A ARTISTA

Isa Oliveira é artivissta, educadora e poetisa de movimento e trânsito. Em seus trabalhos autorais, propõe transas linguísticas provenientes da mistura de movimentos, sons e cores das práticas corporais vivenciadas ao longo de suas vinte e sete voltas em torno do sol. Bacharelanda em Teoria da Dança pela UFRJ, faz de seu cotidiano acadêmico, laboratório de experimentação de seus devires artísticos; produz, lapida e gera. Floresce entre as escrevivências da bailarina preta, as mandingas de Dandara angoleira, e os gritos de Isaura, mãe solteira, filha de Oyá.

FICHA TÉCNICA

Autoria Direção e EncenAção: Isa Oliveira
Orientação: Tatiana Damasceno
Paisagem Sonora: Ana Magalhães , Dai Ramos e Jon Thomaz
Artefatos Luminosos: Jon Thomaz
Prepração Corporal: Leandro Marron
Figurino: Thatiane Oliveira e Valéria Oliveira
Direção de Fotografia: Luís Gomes
Produção Fílmica do curta eu-cinematográfico:Erida Ferreira
Maquinista: Isa Maia
Fotografia: Thainá Farias
Comunicação: Macario Silva
Atores: Ricardo Lopes e Luí Peter
Gambiarras cinematográficas: Hugo de Lima
Participação Especial: Vinícius Freitas

SERVIÇO

Prelúdio da Mãe Preta: O desvelar de um vômito cênico
Dias 11 e 19 de março de 2017
Sábado, às 18h, domingo, às 19h
Local: Arena Carioca Dicró
Rua Flora Lobo – Penha Circular – Rio de Janeiro/RJ
(Próximo à estação Guaporé do BRT)
Ingresso: Grátis
Classificação Etária 16 anos
Informações: (21) 3486-7643 | https://www.facebook.com/preludiodamaepreta/
Classificação: 16 anos.
Evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/1764262077234850/