“Condenar a diferença por meio do estigma é brutal”. É com essa sentença que o criador Paulo Emílio Azevedo orientou a construção de seu mais novo projeto em dança para a Cia Gente: “BRuTAL” tem estreia marcada para os dias 20 e 21 de outubro no Teatro Cacilda Becker, na cidade do Rio de Janeiro.
De fato, Paulo parece não querer definir se se trata ou não de um espetáculo de dança ou não; ele sabe que ela está lá – prefere, dessa maneira, falar em corpo, som, silêncio, palavra. A forma de compor para Paulo é como se estivesse escrevendo um roteiro de filme ou uma instalação literária; talvez esteja aí seu diferencial, mas também como ele mesmo ressalta “a armadilha” que cria para si mesmo e seu elenco.
Interpretado (ou vivido) por seis grande intérprete (Amanda Gouveia, Lucas Fonseca, Lucas Graças, Pedro Brum, Salasar Jr e Zulu Gregório), assistência de Paula Lopes e direção técnica de Filipe Itagiba, “BRuTAL” dá continuidade ao conceito refletido pelo autor que denominou de “estética do desequilíbrio”. Depois das provocações lançadas em “mÒdio” (2015), que inclusive se tornou filme (dir. Filipe Itagiba) com exibição prevista para o dia 15 de outubro na Sala Baden Powell (Copacabana, 19h), Paulo segue a compreender o “corpo” como ferramenta ou gramática política não formal, a lançar outras luzes sobre determinados eventos e fenômenos sociais. Em “BRuTAL”, pode-se dizer que todas as dificuldades transcorridas no processo de criação são também elementos à composição – “se um intérprete chega primeiro que outro na sala de ensaio e que este não pôde vir por diferentes motivos, vou começar o dia com um solo. Esse solo pode outrora ser a parte mais elogiada”, conta Paulo. Mais que isso, cabe situar que “BRuTAL” foi produzido sem quaisquer verbas de natureza pública ou privada e nem propina, cutuca o autor.
Na obra em destaque, chama-se a devida atenção para determinados efeitos estéticos que permeiam a inscrição subjetiva daquele que é considerado desviante da média. Aparecendo na caracterização de monstro ou gente tóxica, incide sobre o mesmo o reflexo de uma dada miopia social. Desse modo o conceito de “fragmentação” é central no processo e atravessa a escolha pelo figurino, pela trilha musical, cenário; enfim pela ambiência, movimentação e escritura coreográfica que de modo geral rege a cena. Em “BRuTAL”, reflete-se sobre a negação do outro por conveniência do padrão quando então a mesma autoriza (sutilmente ou não) diferentes formas de chacinas como parte da paisagem do cotidiano. Em contraponto, aparece a arte como possibilidade a atuar na desinstitucionalização dessas forças. Paulo acredita que é nessa brecha que o corpo entra. Pare ele, o corpo é o penetra da festa ou o próprio vírus para fazer o mecanismo entrar em colapso – sua dança traz desequilíbrios; trans movimento a borrar os ideais estéticos da “pureza”. Em contracena, eis o anormal.
O espetáculo Brutal faz parte da programação da Mostra 6 anos em 6 dias. A realização é da Cia Gente com produção executiva de Beatriz Torres.
Ficha Técnica
Criação: PAULO EMÍLIO AZEVEDO
Intérpretes-criadores: AMANDA GOUVÊIA, LUCAS FONSECA, LUCAS GRAÇAS, PEDRO H. BRUM, SALASAR JR. e ZULU GREGÓRIO
Assistente de direção: PAULA LOPES
Direção técnica: FILIPE ITAGIBA
Desenho de luz: CRISTIANO SILVA
Preparação corporal: JOÃO CARLOS SILVA
Produção: BEATRIZ TORRES
Crédito da foto: Divulgação
Serviço
BRuTAL
Cia Gente
Dias 20 e 21 de outubro de 2018
Sábado, às 20h, domingo, às 19h
Local: Teatro Cacilda Becker
Rua do Catete, 338 – Largo do Machado , Rio de Janeiro – RJ
Ingresso: R$ 20,00
Classificação: 16 anos