Os Clássicos do Passinho estreia no Teatro Sesc Santos
Estreia na próxima quarta-feira, 15 de fevereiro, às 20h, no Teatro Sesc Santos, o espetáculo Os Clássicos do Passinho, com coreografia de Jackson Rei do Passinho. Este é o terceiro espetáculo que resulta da parceria de um grupo de dançarinos cariocas com o coreógrafo Rodrigo Vieira que, desta vez, assina a direção geral. Juntos, construíram um repertório que viajou pelo Brasil e por países como Estados Unidos e Suíça, mostrando toda a potência do passinho.
O passinho é uma dança urbana ligada ao universo funk das comunidades do Rio de Janeiro. Como define Jackson, coreógrafo de Os Clássicos do Passinho, é uma dança viva, que evolui a cada dia. “É 100% brasileira, 100% carioca e 100% da comunidade.” A origem do passinho está nas brincadeiras de meninos e meninas que reproduziam de maneira satírica os gestos dos varejistas de drogas da favela do Jacaré, zona Norte carioca. Estas performances deram vazão às batalhas e aos duelos, que passaram a povoar os bailes funk, tornando-se cada vez mais populares.
O ESPETÁCULO
Com direção geral de Rodrigo Vieira e coreografia de Jackson Rei do Passinho (vencedor da 1ª Batalha de 2011), Clássicos do Passinho traz para a cena dançarinos de diferentes “bondes” e gerações: Marcelly Idd, Michel Quebradeira Pura, Dg Fabulloso, Jackson Rei do Passinho, Pablinho Idd e Sidy. O espetáculo tem pesquisa e produção musical de Leony Fabulloso, Jackson Rei do Passinho e Rodrigo Vieira – com colaboração de Jefferson Cebolinha, Jaya Batista e Ivo Alcântara.
Eles têm entre 18 e 24 anos. Os “relíquias” são aqueles que vivenciaram o surgimento do passinho, nos idos de 2007 e 2008, quando os vídeos das danças viralizaram no YouTube e instigaram jovens aos movimentos feitos em comunidades comandadas por milícias distintas. A turma da nova geração é a chamada “sensação”, que já vivencia a experiência de reconhecimento do passinho. Esse momento representa a unificação da juventude em torno da dança.
Os Clássicos do Passinho preserva todas as características originais e marcantes, tanto da dança quanto dos dançarinos. O figurino é assinado por Caroline Funke. Os dançarinos entram em cena com camisetas, bonés e bermudas. A batida é o funk carioca, com pontinhos (beat) antigos e atuais interligados por colagens, com espaço para as matrizes africanas. O improviso também entra na trilha dando os tons realista e pulsante.
O que existe entre as duas vertentes – “relíquia” e “sensação” – não é a rivalidade, ao contrário, a dança é agregadora e libertadora. “Antes do passinho, esses garotos eram pressionados pelos pais para procurar emprego. Era difícil uma terceira via, já que a segunda era o tráfico. O passinho deu a eles visibilidade e novas possibilidades”, reflete Rodrigo Vieira.
Para o diretor-geral, foi essencial deixar a criação de cada um fluir no espetáculo. “A minha maior satisfação é ver o quanto os dançarinos evoluíram, desde nossos primeiros contatos, e se tornaram profissionais da dança. Os Clássicos do Passinho é energia pura, humor e beleza desses jovens. O destaque é a Marcelly Imperatriz da Dança, que inspirou a narrativa deste trabalho. Misturamos várias gerações que vão dançar juntas pela primeira vez. É a soma de um monte de passinhos, cada um com seu nome, sua história e sua vibração”, explica.
Mesmo considerado veterano no passinho, Jackson encarou a coreografia como um dos maiores desafios de sua carreira e, ao mesmo tempo, de cumplicidade com os dançarinos. “O mais difícil é pensar que os outros não pensam e não fazem como você. Preciso refazer com eles o meu caminho da aprendizagem. Preciso aprender como eles pensam, preciso escutar. Nos ensaios, às vezes, o pessoal fica bolado comigo. Mas ninguém leva para pessoal. Quando o ensaio termina, somos amigos de novo”, conta o coreógrafo.
Após a apresentação no Teatro Sesc Santos, o público terá a oportunidade de conhecer melhor os dançarinos no bate-papo.
Rodrigo Vieira, diretor-geral
Formado na Escola de Danças Clássicas do Teatro Guaíra (Curitiba), Rodrigo Vieira tem uma trajetória de 17 anos como bailarino. Integrou diversas companhias de dança, como o balé Gubenkian, em Lisboa, Portugal. Seu contato com o passinho aconteceu em 2014, quando foi convidado para assinar a coreografia do espetáculo Na Batalha juntamente com Julio Ludemir, Lavinia Bizzotto e Raul Fernando.
“O primeiro encontro foi choque cultural. Conheci uma dança de rua, oriunda das favelas, dentro do funk, onde os meninos dançavam para se divertir, para se sobrepor aos outros, para buscar status, para fazer show “era o baile”. Para mim, a dança era preparo, formação, disciplina, ensaios, companhias e muito compromisso. Tinha tudo para não dar certo, mas a química funcionou e foi inesperado. Talvez porque tenho uma história um pouco semelhante à deles: no fundo todos nós compartilhávamos o mesmo sonho, a mesma paixão pelo dançar”, explica.
No espetáculo #Passinho (2015), Rodrigo elaborou a coreografia e assinou a direção ao lado de Lavinia Bizzotto. “Foi uma criação coletiva, cada um deixou sua marca no espetáculo”, diz. Um dos pontos fundamentais dessa construção foi promover bate-papos entre dançarinos e o público. “O passinho tem muito a nos ensinar, é uma arte que deve ter voz”, conta. O espetáculo cumpriu mais de 35 apresentações dentro e fora do Brasil.
Jackson Rei do Passinho, coreógrafo
Como muitos meninos apaixonados por dança, ele começou fazendo coreografias na frente do espelho até poder frequentar os bailes cariocas onde aconteciam os duelos de passinhos. Na batalha de 2011, Jackson levou o primeiro lugar. Três anos depois, começou a dançar nos teatros. “No começo era só diversão e provocação. A gente dançava descalço na rua para chamar a atenção das garotas”, lembra.
O contato com Rodrigo Vieira foi transformador. “Hoje ele é da família e fica nas comunidades conosco. Ele nos ensinou a olhar para o público, a sorrir, isso mudou todo. Aprendemos a nos posicionar no palco, a dançar com outras pessoas no mesmo espaço, a contar histórias. Aprendemos principalmente que realizamos um trabalho de verdade, que precisamos ter disciplina e que dá para vivermos da nossa arte e acreditar no nosso sonho”, completa o coreógrafo de Os Clássicos do Passinho.
FICHA TÉCNICA
Coreografia: Jackson Rei do Passinho.
Dançarinos: Marcelly Idd, Michel Quebradeira Pura, Dg Fabulloso, Jackson Rei do Passinho, Pablinho Idd e Sidy.
Pesquisa e produção musical: Leony Fabulloso, Jackson Rei do Passinho e Rodrigo Vieira.
Colaboradores: Jefferson Cebolinha, Jaya Batista e Ivo Alcântara.
Luz: Silviane Ticher.
Figurino: Caroline Funke.
Produção: Naturarte.
Imagens: Kristin Bethge.
Direção geral: Rodrigo Vieira.
SERVIÇO
Os Clássicos do Passinho
Dia 15 de fevereiro de 2017
Quarta, às 20h.
Local: Sesc Santos
Rua Conselheiro Ribas, 136 – Aparecida – Santos/SP
Ingressos: R$ 6,00 a R$ 20,00.
Classificação: Livre.
Duração: 40 minutos
Os Clássicos do Passinho
Dia 18 de fevereiro de 2017
Sábado, às 18h.
Local: Sesc Registro
Av. Pref. Jonas Banks Leite, 57 – Centro – Registro/SP
Ingressos: R$ 6,00 a R$ 20,00.
Classificação: Livre.
Duração: 40 minutos