O Especulador de Olhos Invisíveis de Carne estreia temporada 2016 no Espaço Cênico O Lugar
O Especulador de Olhos Invisíveis de Carne – Novo espetáculo da Cia. Corpos Nômades envolve a sessão de sufocamento das grandes cidades, pela especulação imobiliária, pela má utilização e distribuição do solo. O texto “O Despovoador” de Samuel Beckett – escrito no final da década de sessenta – serve como importante inspiração e provocação para esta criação, além de se alinhavar a outras fontes inspiratórias fundamentais: os locais visitados em 1999 – revisitados em 2014 e 2015 – pela Cia. Corpos Nômades, na região centro norte da cidade, na extinta Favela do Gato, nas aldeias dos índios Guaranis na região noroeste (Pico do Jaraguá) e na Zona Sul (Krukutu e Tenondé-porã). Estes alinhavos feitos com diferentes texturas e sensações somados aos pensamentos de Deleuze e Guattari sobre o Capitalismo e Esquizofrênia deram de forma estranha e inquietante os tons da dramaturgia às coreografias, brotando desta junção as ditas “coreodramaturgrafias” – termo que designa as junções: movimentos vocais e corporais, textos, projeções, trilha sonora, elementos cênicos com as coreografias.
O Espaço Cênico O LUGAR (Baixo Augusta – São Paulo) comemora, em 2016, nove anos de existência como sede da Companhia. Neste local, desenvolveram-se ações artísticas constantes de formação, criação e difusão em dança contemporânea envolvendo milhares de pessoas. Atualmente a Petrobras é a patrocinadora da manutenção da Cia. Corpos Nômades.
A nova obra da companhia dirigida pelo coreógrafo e bailarino João Andreazzi resgata o princípio da ideia do “corpo nômade”, inquietação artística de Andreazzi, dando sequência a uma pesquisa iniciada há 16 anos, cujo lugar/foco foi a extinta Favela do Gato – hoje conjunto habitacional do Parque do Gato – e a Cultura Guarani, nas aldeias Krukutu e do Jaraguá. Lugares que foram revisitados em 2014 e 2015 com o intuito de se observar as modificações ocorridas.
Neste processo, os textos de Samuel Beckett, como “O DESPOVOADOR, serviram de condutores para as escolhas dos elementos cênicos e elaboração da coreodramaturgrafia. “Para este espetáculo resgatamos o conceito de “nômade”, da errância do corpo, para encontrar um caminho que nos permeia neste sistema em que vivemos, uma compreensão do período de existência desses corpos e as transformações que ali ocorreram”, explica Andreazzi.
“Vi e gostei bastante, é representativo daquilo que a companhia define como coreodramaturgrafia, num processo constante de inscrição e ressignificação do corpo. A ideia é mesmo a do “corpo nômade” e retoma a pesquisa iniciada em 1999, realizada na Favela do Gato – hoje Conjunto Habitacional Parque do Gato – e com a Cultura Guarani, nas aldeias Krukutu e do Jaraguá, que foram revisitadas em 2014 e 2015. O espetáculo mescla a cultura guarani com a obra de Beckett, mais propriamente com o conto “O despovoador”. A crítica ao capitalismo se dá num processo de construção e reconstrução do cenário urbano e também dos corpos que o habitam. A ideia de um nomadismo que abarca favelas, conjuntos habitacionais, moradias provisórias, um Minha Casa Tantas Vidas, identidades compostas e fragmentadas. A cenografia é bonita, traz imagens em vídeo e elementos de desconstrução e reconstrução do espaço: de lonas a casinhas de madeira, de palha de coqueiro a garrafas pet que servem como uma espécie de artefato de respiração ou representação do sufoco contemporâneo com os performers enchendo-as e esvaziando-as com a boca. O “especulador” do título remete à ideia da ocupação urbana determinada pelo poder aquisitivo na construção incessante do lucro, mas o que se descontrói é também o corpo. Trata-se do esgotamento do espaço proposto por Beckett e perpassado pelas reflexões e provocações de Deleuze e Guatarri. Bonita demais uma passagem do texto que trata dessa perspectiva mostrando que a angústia existencial se inscreve também no físico, neste atrito de corpos que se esbarram, se comunicam, disputam o mesmo espaço, transpiram, se amam, se violentam. É um retrato do corpo urbano e da eterna luta de ocupação do espaço pelo homem. Uma guerra de nervos, levada às últimas consequências e à flor da pele.” Por Célia Musilli, jornalista.
FICHA TÉCNICA
Concepção e Direção: João Andreazzi
Elenco: Dresler Aguilera, Gervasio Braz, João Andreazzi e Letícia Mantovani
Trilha Sonora: Felipe Julian
Iluminação: Décio Filho
Figurino: David Schumaker
Cenário e Vídeo: Cia. Corpos Nômades e David Schumaker
Designer Gráfico: Juliana Basile
Agradecimentos: Marcos Tupã (Aldeia Krukutu), Francisca Guarani(Aldeia Krukutu), Tupãzinho (Aldeia krukutu) Sr. Sassa (Favela do Gato), Dona Maria(Favela do Gato), Davi Martins (Aldeia Jaraguá), Jacira Minelli Andreazzi, Marcela Costa, Talita Bertanha, Claudio Willer.
Duração: 50 minutos.
SERVIÇO
O Especulador de Olhos Invisíveis de Carne
Cia. Corpos Nômades
Temporada: 18 de março a 01 de maio de 2016
Sextas e sábados, às 21h; domingos às 20h
Local: Espaço Cênico O Lugar
Rua Augusta, 325 – Consolação – São Paulo/SP
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
Lotação: 60 pessoas
Classificação: 14 anos
Duração: 50 minutos