Crédito da foto: Clarissa Camargo
O Núcleo Falas traz como premissa em suas ações o encontro entre o artístico e o pedagógico: de um lado a pesquisa artística, de outro o olhar para o corpo da mulher no Brasil, em particular o corpo da mulher negra. O solo, territórioMEU, a cada apresentação coloca em cena um novo tipo de assédio vivido pela própria intérprete ou ouvido do público e outras mulheres. “Quando vim para São Paulo, morava em uma rua com comércio comandado por homens. Em todas as passagens, eu sofria um tipo de abordagem. Foi assim que surgiu esse solo”, conta Ciça Coutinho, intérprete, diretora e idealizadora do núcleo. As apresentações acontecem nos dias 5 e 6, às 16 h; e 8 de agosto, às 19h, com entrada gratuita, em diversos espaços da cidade: na EMEF Padre José Pegoraro, na Zona Sul; no Mulheres do G.A.U, na Zona Leste, e no Centro de Referência da Dança, no Centro da cidade.
Contemplado pela 31ª Edição do Fomento à Dança da Cidade de São Paulo, a circulação deste solo, em espaços independentes dirigidos prioritariamente por mulheres, é o ponto de partida para elaboração da coreografia coletiva que será apresentada ao final do projeto, previsto para dezembro.
Para que o projeto tomasse a forma desejada, foram feitas duas parcerias com coletivos periféricos, com atuações femininas e em defesa das mulheres: a Associação Mulheres do GAU (Grupo de Agricultura Urbana) e o Coletiva Consciência Feminina Escolar.
A Associação Mulheres do GAU é formada por mulheres migrantes nordestinas que trabalham como agricultoras no Viveiro Escola União de Vila Nova, localizado no bairro de São Miguel Paulista. Por estar em uma área de várzea, é popularmente conhecido como Jardim Pantanal, ou apenas Pantanal.
O Grupo de Agricultura Urbana (GAU), há cerca de dez anos, teve a iniciativa de utilizar o local como horta comunitária, desenvolvendo trabalhos de permacultura por meio do plantio, cultivo, colheita e manejo agroflorestal. A um só tempo: preservaram a área verde da região e conseguem uma forma de sustento.
Atualmente, a Associação Mulheres do GAU é formada por nove mulheres: cada uma desenvolve uma tarefa importante no fortalecimento, manutenção do grupo local e sensibilização ambiental, já que desenvolvem um importante trabalho de conscientização com as crianças da região no ensino do cultivo adequado da terra.
Mas esse foi um trabalho de perseverança. No início, era um solo pobre, repleto de pedras e paus que chegou a ser desacreditado por agrônomos. Hoje, o solo floresce e essas mulheres compartilham seus conhecimentos para melhorar a alimentação das pessoas. O apelo final das agricultoras é o cuidado com a saúde.
Outra parceria se deu com o Coletiva Consciência Feminina Escolar, iniciativa de estudantes do Ensino Fundamental II, da EMEF Padre José Pegoraro, localizada no Grajaú. A ideia surgiu com a insatisfação de algumas alunas, que não gostavam da forma como as meninas eram tratadas na própria escola.
Com apoio da educadora de artes, Lu Azevedo, iniciam um processo de sensibilização e conscientização das meninas e mulheres da escola sobre seus direitos em relação às questões de gênero. Hoje promovem discussões semanais sobre o tema e acolhem mulheres e pessoas com útero com dúvidas e questionamentos.
Por isso, o solo será apresentado nos dois locais.
Todas as apresentações são próximas ao aniversário de 16 anos da Lei Maria da Penha e serão seguidas de debate sobre o tema.
FICHA TÉCNICA
Concepção, atuação e direção: Ciça Coutinho
Desenho de luz: Fe_Menino
Serviço
territórioMEU
Núcleo Falas
Dia 05 de agosto de 2022
Sexta, às 16h
Local: EMEF Padre José Pegoraro
R. Portunhos, S/N – Parque Cocaia, São Paulo – SP
Ingresso: Grátis
Dia 6 de agosto de 2022
Sábado, às 16h
Local: Mulheres do G.A.U
R. Papiro-do-Egito, 100b – Vila Jacui, São Paulo – SP
Ingresso: Grátis
Dia 8 de agosto de 2022
Segunda, às 19h
Local: Centro de Referência da Dança
Galeria Formosa Baixos do Viaduto do Chá s/n, Praça Ramos de Azevedo – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo – SP
Ingresso: Grátis