Núcleo Artérias apresenta ‘Protesto’ no Sesc Belenzinho
Grupo se debruça sobre diferentes práticas de transe e relaciona princípios físicos comuns presentes em muitos rituais; público acompanha as movimentações de cena junto às bailarinas.
Com direção de Adriana Grecchi, Protesto, o novo trabalho do Núcleo Artérias, se apresenta de 28 a 30 de julho, no Sesc Belenzinho. Para gerar um novo ponto de vista imagético e sensorial, o grupo convida o público a fruir a obra perto dos bailarinos. O espetáculo foi contemplado pelo 18º edital de Fomento à Dança.
O Núcleo Artérias observou nos últimos anos diferentes práticas de transe para a pesquisa que dá base a esse espetáculo. Neste estudo, o grupo reconheceu princípios físicos comuns presentes em muitos rituais, como a desorientação do sistema vestibular, a vibração de tecidos corporais modificando o acionamento do sistema nervoso, a repetição de padrões percussivos e práticas de chacoalhar para ativar fluxos emocionais.
Adriana Grechi explica o interesse pelos estados de transe: “O primeiro contato do grupo foi em 2012, no Festival On Marche em Marrakesh, com Adil Amimi, músico condutor de rituais Gnawa em Essaouira, uma pequena cidade litorânea no sul do país, centro dos rituais. Alguns modos de acionamento de estados de transe no Marrocos eram bastante similares aos de rituais de Umbanda praticados no sudeste do Brasil, o que particularmente me interessou bastante”.
O antropólogo escocês Ioan Lewis, usa o termo “Protesto Oblíquo” para descrever estados de transe em diferentes culturas como estratégias para pessoas marginalizadas (na maioria das vezes mulheres em sociedades dominadas por homens) encontrarem algum tipo de visibilidade, reconhecimento e espaço de existência social. Lewis estuda, entre outros fenômenos, o “Carnaval de Mulheres” (forma de Tarantismo propagada pelo sul da Itália), rituais dionisíacos realizados por mulheres na antiga Grécia, possessão feminina no vodu haitiano, Indian Shakers nos EUA, culto Zar no norte do Sudão, entre muitos outros.
O Núcleo Artérias, formado por mulheres, inventou suas próprias práticas para gerar vitalidades corporais em tempos de crise, ativando e reconhecendo o corpo como matéria perceptiva, viva (sensorial e emocional), integrada a outras matérias, e em constante transformação.
Em diferentes práticas xamânicas ameríndias há um tipo de retorno a tempos onde os humanos não se diferenciavam dos outros seres, onde todos partilhavam a mesma forma possibilitando uma ampla comunicação. O grupo observou experiências similares no trabalho de “camuflagens orgânicas” da artista cubana Ana Mendieta, onde ela imergia seu corpo em paisagens para se reconectar com um “fluido universal”.
Para tramar sua própria vitalidade primitiva, o grupo fabricou um certo “tempo de indiferenciação” e “comunicação ampliada”, misturando seus corpos a outros materiais, corporificando e amplificando padrões neurológicos básicos relacionados às primeiras etapas evolutivas da vida (vibração, respiração celular e pulsação).
Entendendo que conhecer é personificar, o grupo inventou modos do corpo operar se conectando com outros corpos. Para isso instalou um ambiente relacional onde não há sujeito, ou objeto. Um ecossistema que ativa os sentidos, coabitado por “coisas” como lona plástica, pessoas, pedras, tecido dourado, sons, trepadeiras, musgos, aromas, um compensado e blocos de cimento.
Ao inventar um ritual coletivo para teatros, relacionado à transformação e à regeneração das conexões, o Núcleo Artérias propõe acionar o corpo como matéria sensorial e perceptiva, um corpo poroso, que expande sua capacidade de ser afetado como forma de vitalidade e potência política.
Sinopse
Dançar como uma forma de protesto oblíquo (indireto, torto) para gerar vitalidade e conexão em tempos de crise e incerteza é o novo trabalho do Núcleo Artérias que propõe ativar o corpo como matéria perceptiva, viva (sensorial e emocional), integrada a outras matérias, e em constante transformação.
Para criar o espetáculo, o grupo observou nos últimos anos diferentes práticas de transe e reconheceu princípios físicos comuns presentes em muitos rituais, como a desorientação do sistema vestibular, a vibração de tecidos corporais modificando o acionamento do sistema nervoso, a repetição de padrões percussivos e práticas de chacoalhar para ativar fluxos emocionais.
Ao inventar um ritual físico e coletivo para teatros, relacionado à transformação e à regeneração das conexões, o Núcleo Artérias convida a plateia a acionar um corpo poroso, perceptivo, que expande sua capacidade de ser afetado como forma de vitalidade e potência política.
Núcleo Artérias
O Núcleo Artérias, dirigido por Adriana Grechi, se dedica de forma contínua à investigação de corporeidades urgentes e à invenção de sistemas de compartilhamento artístico. As integrantes do grupo estudam – em seus corpos -como é afetada a percepção a partir do consumismo, da instabilidade, da incerteza, das construções de gênero e da espetacularização. O Núcleo Artérias testa outras formas de perceber, transformando modos de operar do próprio corpo e suas possibilidades de conexão com outros corpos. O Núcleo Artérias apresentou seus trabalhos em mais de 40 cidades, participado de diversos festivais (Rencontres Chorégraphique de Seine-Saint-Denis/Paris 2002, Bienal de Dança do Ceará/Fortaleza 2003, Porto Alegre em Cena 2003, FID/ Belo Horizonte 2005, On Marche/Marrakech 2012, entre outros) e de programas de circulação pelo Brasil (Circuito SESI 2008, Caixa Cultural 2009, Petrobras Cultural 2010). O grupo recebeu diversos prêmios, entre eles, três APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). O Núcleo Artérias coordenou e orientou na última década seis edições da “Plataforma Exercícios Compartilhados” com o objetivo de fomentar diálogos artísticos que repensassem os contextos e modos de criação em dança.
Ficha Técnica
Concepção/direção: Adriana Grechi
Criação/dança: Bruna Spoladore, Lívia Seixas e Renata Aspesi
Arte/figurino: Lu Mugayar
Criação/instalação sonora: Dudu Tsuda
Provocadores: Alejandro Ahmed, Rosa Hercoles
Criação de luz: André Boll
Operação de luz: Diego Gonçalves
Colaboração: Nina Giovelli
Estágio/colaboração: Luiza Meira Alves, Nicolle Tino, Annie Felix, Sabrina Dias
Imagens: Paulo César Lima e Jônia Guimarães
Arte gráfica: Fernando Bergamini
Assessoria de imprensa: Márcia Marques – Canal Aberto
Produção: Amaury Cacciacarro Filho e Corpo Rastreado
Assistência de produção: Erika Fortunato
Projeto contemplado pelo 18º Edital do Programa de Fomento à Dança para à Cidade de São Paulo
Serviço
Protesto
Núcleo Artérias
De 28 a 30 de julho de 2017
Sexta e sábado, às 21h30, e domingo, às 18h30.
Local: Sesc Belenzinho – Sala de Espetáculos II
R. Padre Adelino, 1000 – Belém – São Paulo/SP
(Próximo a estação Belém do metrô)
Ingressos: R$ 20,00 (inteira); R$ 10,00 (meia) e R$ 6,00 (credencial plena)
Capacidade: 80 lugares.
Classificação: 16 anos.
Duração: 60 min.