Novo espetáculo da Lia Rodrigues Companhia de Danças estreia esta quinta no Centro de Artes da Maré, no Rio de Janeiro
O mito do fim do mundo, relatado pelo xamã Yanomami Davi Kopenawa, diz que, rompida a harmonia da vida no universo, o céu – que no idioma Yanomami é entendido por “aquilo que está acima de nós” – desaba sobre todos os que estão abaixo e não apenas sobre os povos das florestas.
O relato de Davi Kopenawa foi uma das fontes para a criação de Para que o céu não caia, novo trabalho da Lia Rodrigues Companhia de Danças, que estreia no dia 4 de agosto. As apresentações, que serão de quinta a domingo, até 28 de agosto, no Centro de Artes da Maré, contam com o patrocínio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, da Secretaria Municipal de Cultura e a coprodução de cinco cidades alemãs – Dresden, Hamburgo, Berlim, Frankfurt e Düsseldorf -, do Festival de Outono de Paris, do Centquatre e do Festival de Dança de Montpellier.
O espetáculo Para que o céu não caia integra o Circuito Cultural Rio, idealizado pela Secretaria Municipal de Cultura e pela Prefeitura do Rio, para a programação cultural dos períodos Olímpico e Paralímpico, que vai de maio a setembro de 2016.
Para que o céu não caia foi concebido, entre 2015 e 2016, pela coreógrafa Lia Rodrigues e os 11 bailarinos de sua companhia em sua sede, o Centro de Artes da Maré. O embrião da criação foi o projeto piloto Questionário Afetivo–Cultural-Corporal na Maré, parte do projeto Dançando com a Maré, patrocinado pela Globo através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura/Lei do ISS. Neste projeto, os bailarinos da Lia Rodrigues Companhia de Danças, junto com os 18 jovens do Núcleo 2 da Escola Livre de Danças da Maré e de duas estagiárias, percorreram ruas da Maré e pediram a mais de cem pessoas para responderem, de diferentes formas, a um questionário produzido coletivamente. A partir dessa experiência, os bailarinos e estudantes criaram um exercício coreográfico que foi o início do processo de criação de Para que o céu não caia.
“Diante de tantas catástrofes e barbáries que todos os dias nos assombram e emudecem, neste contexto de drásticas mudanças climáticas que escurecem o futuro, o que nos resta a fazer? Como imaginar formas de continuar e agir? O que cada um de nós pode fazer para, a seu modo, segurar o céu? Não há tempo a perder antes que tudo desabe. O céu já está caindo e aqui estamos nós a viver sob ele. Vamos juntar nossas forças mais íntimas para manter este céu. Cada um a sua maneira. Na Maré nós dançamos no ritmo de máquinas e carros, helicópteros, sirenes, nós dançamos sob um calor escaldante, nós dançamos com chuva e tempestade, nós dançamos como uma oferenda e como um tributo, para não desaparecer, para durar e para apodrecer, para mover o ar e para se expandir, para sonhar e para visitar lugares sombrios, para virar vagalume, para sermos fracos e para resistir. Nós dançamos para encontrar um jeito de sobreviver neste mundo virado de cabeça para baixo. Dançar para segurar o céu. É o que podemos fazer. Para que o céu não caia… dançamos.”, escreve Lia Rodrigues sobre esta nova criação.
Para que o céu não caia estreou em maio deste ano, na Alemanha, em Dresden, onde foi finalizado durante uma residência artística, e depois foi apresentado em Hamburgo, Potsdam, Berlim, Frankfurt e Düsseldorf, como parte do Projeto Brasil. Logo após, Para que o céu não caia foi apresentado no Festival Montpellier Danse, na França, para onde retorna em novembro deste ano para uma temporada em Paris, seguindo depois para Grenoble e Toulouse.
Assim, como em Pindorama (2013) e Aquilo de que somos feitos (2000), em Para que o céu não caia o público fica no mesmo espaço que os bailarinos, sem divisão entre palco e platéia, praticamente fazendo parte do espetáculo.
Para facilitar o acesso ao Centro de Artes da Maré, será disponibilizada uma van durante os fins de semana – trajeto de ida e volta do estacionamento da Cobal de Botafogo até a Maré. Quem estiver interessado, deve entrar em contato através do e-mail paraqueoceunaocaia@gmail.com
Lia Rodrigues
Premiada no Brasil e no exterior, Lia Rodrigues estudou dança no Brasil. Fez parte da companhia da coreógrafa francesa Maguy Marin. Em 1990, fundou no Rio de Janeiro, a Lia Rodrigues Companhia de Danças e vem desenvolvendo atuação importante na construção da linguagem da dança contemporânea no Brasil. A Companhia, que tem em sua história a criação de 18 espetáculos, entre eles os premiados Folia, Aquilo de que somos feitos, Formas Breves e Encarnado, se mantém em atividade durante todo o ano, com aulas, ensaios do repertório, pesquisa, criação e apresentações pelo mundo.
Lia criou o Festival Panorama, em 1992, e foi sua diretora artística durante 13 anos. Desenvolveu criações com artistas plásticos como Tunga, da consultoria para outros coreógrafos e leciona dança contemporânea no Brasil e no exterior. Fez parte da organização IETM e foi representante no Rio de Janeiro da Rede de Promotores Culturais da América Latina e Caribe. Em 2000, foi indicada para a “Categoria Especial” do prêmio Rio Dança. Em 2007, foi condecorada pelo Governo Francês com a medalha de Chevalier des Arts et dês Lettres , em 2014, recebeu do Governo Holandês o Prêmio Prince Claus e, em 2016, o Prêmio de Coreografia da Société des Auteurs et Compositeurs Dramatizes (SACD), na França.
Em 2004, começou a trabalhar no bairro da Maré, para onde transferiu a sede da Companhia. No Centro de Artes da Maré, nasceram Encarnado (2005), Pororoca (2009), Piracema (2011) e Pindorama (2013), além de Para que o céu não caia (2016).
FICHA TÉCNICA
Criação e direção: Lia Rodrigues
Assistente de direção e criação: Amália Lima
Dançado e criado em estreita colaboração com: Leonardo Nunes, Gabriele Nascimento, Francisco Thiago Cavalcanti, Clara Castro, Clara Cavalcante, Dora Selva, Felipe Vian, Glaciel Farias, Luana Bezerra, Thiago de Souza, com a participação de Francisca Pinto
Dramaturgia: Silvia Soter
Colaboração artística e imagens: Sammi Landweer
Criação de Luz: Nicolas Boudier
Produção/Consultoria de projetos: Claudia Oliveira
Programação visual: Monica Soffiati
Secretária: Glória Laureano
Professores: Amalia Lima e Sylvia Alcantara
Produção/Difusão internacional: Thérèse Barbanel / Les Artscéniques
Residência de criação: HELLERAU-European Center for the Arts Dresden, Alemanha
Coprodução: Festival d’Automne à Paris; Centquatre, Paris; Montpellier Dance Festival – França; HELLERAU-European Center for the Arts Dresden; Kampnagel, Hamburgo; Hau, Berlim; Musenturm, Frankfurt; Tanzhaus, Düsseldorf – Alemanha.
Patrocínio: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura e Globo
Em parceria com o Centro de Artes da Maré e Redes da Maré
SERVIÇO
Para que o céu não caia
Lia Rodrigues Companhia de Danças
De 4 a 28 de agosto de 2016
Quinta e sexta, 19h, sábado e domingo, 18h
Local: Centro de Artes da Maré
Rua Bittencourt Sampaio, 181 – Maré – Rio de Janeiro/RJ
Ingresso: Grátis
Duração: 75 min
Classificação: 16 anos