Com pesquisa musical da própria bailarina, trilha bastante diversa tem música cigana húngara, piano minimalista japonês, música vietnamita, africana, sacra, eletrônica e o rock dos anos 1960 e 1970, entre outras referências. O espetáculo tem figurino do estilista Dudu Bertholini, luz de Fábio Retti, e textos de Carolina Bianchi. A força da natureza, a ancestralidade e a coletividade foram ignições do novo trabalho de Morena Nascimento
Não havia tema. Apenas dez bailarinos escolhidos por audição – em novembro de 2015 – a partir de um olhar pouco ortodoxo. “Não os escolhi pela técnica ou pela trajetória na dança, e sim pelas combinações que imaginava entre eles”, conta a bailarina e coreógrafa Morena Nascimento. A bailarina está de volta ao Brasil depois de apresentações em Londres ao lado da companhia Tanztheater Wuppertal Pina Bausch. Após quatro meses intensos de ensaios, estreia dia 10 de março, quinta-feira, às 20h, na Galeria Olido, o espetáculo ANTONIA: Como Se Em Sua Dança Quisesse Reinventar o Exaustivo Ciclo do Nascer e Morrer. Em seguida, haverá temporadas curtas no Teatro Arthur Azevedo (18 a 20 de março), e no Teatro Municipal Paulo Eiró (25 a 27 de março). Carolina Bianchi assina os textos da peça, dividindo a dramaturgia com Morena.
Neste trabalho, Morena intensifica o desejo de desenvolver, em dança, a ideia de coletividade. Pequenos solos de cada um dos dez bailarinos que se destacam em meio a movimentos velozes do coletivo fazem referência à relação de grupo versus indivíduo. Os fluxos da natureza, forças ancestrais, catástrofes naturais e fenômenos intensos da natureza que espelham os turbilhões de nossas almas também contribuíram na criação coreográfica da artista. Diferente de seus dois trabalhos mais recentes, Rêverie e Clarabóia, norteados por imagens e temas específicos, os dispositivos que constituíram ANTONIA vieram de um processo de criação intuitivo e possibilidades de imagens e gestos criadas pela interação dos bailarinos.
Essa característica, segundo Morena, foi o maior desafio do trabalho. Compartilhando com os bailarinos a intenção de iniciar a montagem do zero, Morena os avalia como artistas muito corajosos – por confiarem em sua intuição para o desenvolvimento da peça – e heterogêneos, já que em ANTONIA há representantes de diversos níveis técnicos, idades e estilos de dança.
A dramaturga e atriz Carolina Bianchi, que volta a trabalhar com Morena nesta obra (ela dividiu a direção e a autoria com a artista em Rêverie, de 2013), criou textos que são citados pelos bailarinos em cena. A artista divide a dramaturgia com Morena Nascimento. “Minha criação dramatúrgica não corresponde apenas à criação textual, mas de cenas, situações, coreografias, sensações. O texto verbal é uma parte da dramaturgia”, explica Morena, que dançou no Sadler’s Well’s Theater, Londres, na semana do Carnaval, o espetáculo Como el Musguito en La Piedra, ay si si si, última criação da célebre coreógrafa alemã Pina Bausch (1940-2009).
Por se tratar de um trabalho de dança, Carolina se debruçou mais nas imagens coreográficas do que nos ímpetos textuais que, em alguns momentos, atravessam ANTONIA. A artista conta que seu papel era o de abrir alguns sentidos, perceber como em alguns momentos as palavras apareciam ou era a dança que deveria incendiar tudo. “É como bordar paisagens”, define Carolina.
Durante as experiências coreográficas propostas por Morena no começo dos ensaios, o livro Há Mundo Por Vir? – Ensaio Sobre o Medo e os Fins, da filósofa Déborah Danowski e do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, foi recomendado aos bailarinos. A abordagem que explicita as possibilidades do fim do mundo como o conhecemos foram caras à Morena. “As dinâmicas dos corpos nos ensaios foram super intensas. Os bailarinos ocuparam todos os espaços, correram por ele e isso fazia parecer que estavam falando sobre o fim, sobre o devir, algo que chega ao limite para possibilitar a chegada do novo. Não havia uma conclusão”, infere.
Uma residência artística em Piracaia, Interior do Estado de São Paulo, também influenciou a execução de ANTONIA e sua intrincada ligação com a natureza. “Neste local havia um morro bem alto e, no topo, era possível avistar uma paisagem muito vasta das colinas e da represa do sistema Cantareira. Essa ideia de vastidão também entrou no trabalho. Havia uma sala de dança, mas utilizamos muito mais esse espaço para ensaiar”. O local também possibilitou que todos os envolvidos se desvencilhassem dos compromissos da cidade e se dedicassem completamente à dança.
Na pesquisa sonora, Morena apostou em uma trilha com gêneros musicais bastante diversos que vão desde o rock dos anos 60, passando por música tradicional vietnamita e sintetizadores. Há música cigana húngara, piano minimalista japonês, música vietnamita, música africana, música eletrônica, música sacra, rock americano do Led Zeppelin, entre outras referências, como Beatles e Joan Baez. Além dessas músicas, Victor Chaves irá compor alguns temas exclusivamente para a trilha gravada.
A luz de Fábio Retti cria cenários de vastidão e paisagens no palco nu. O figurino – assinado pelo estilista Dudu Bertholini, que foi stylist de Alexandre Hercovitch, André lima e de marcas como Arezzo, Cori e Triton – traz desde cores fluorescentes até uma paleta de cores em tons mais queimados. Os trajes trabalham, nas cores e formas, inspirações ritualísticas e tribais que permeiam a estética da peça.
Sobre Morena Nascimento
Morena Nascimento é bailarina e coreógrafa. Nasceu em Belo Horizonte, MG. Integrou de 2007 a 2009 o Tanztheater Wuppertal Pina Bausch, companhia com a qual continua contribuindo artisticamente como bailarina convidada. Atuou no filme Pina sob direção de Wim Wenders que homenageia a coreógrafa. Trabalhou com coreógrafos internacionais como Susanne Link (Alemanha), Mark Scieszkarek (Irlanda) e Chikako Kaido (Japão). Cursou a Folkwang Hochschule, em Essen, Alemanha, de 2006 a 2008, sob supervisão de Dominique Mercy, Malou Airadou e Lutz Föster. A convite da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde graduou-se em 2001 no curso de Artes Corporais, atuou como professora colaboradora do curso de graduação no Departamento de Artes Corporais, no período de agosto de 2010 a junho de 2011. Tem ministrado aulas regulares e cursos temporários em São Paulo e outros estados brasileiros.
Criou, em 2006, Lady Marmelade, solo de dança estreado na Alemanha e posteriormente convidado para uma turnê em Baguio City, Filipinas. No Brasil, atuou em espetáculos dirigidos por José Possi Neto, Marcio Aurélio, Arto Lindsay, Guga Stroeter e Gisela Moreau. Dentre os coreógrafos brasileiros com quem trabalhou estão: Lara Pinheiro, Jorge Garcia, Ana Vitória, Holly Cavrell, Tuca Pinheiro e Dududde Hermann. Integrou o 1° Ato Grupo de Dança, de Belo Horizonte, sob direção de Suely Machado de 2001 a 2004. Neste período, desenvolveu coreografia de sua própria autoria com o elenco feminino deste mesmo grupo, resultando no trio Horas de Um Desejo.
Em 1999, passou três meses na cidade de Nova York frequentando aulas de dança em importantes centros como Limón Institute, Alvin Ailey School, ZVI Gotheiner e Dance Space Center. Desde 2001 realiza seu trabalho autoral com diversas parcerias artísticas se apresentando nos principais festivais e eventos de dança do Brasil.
Suas obras têm se caracterizado por um constante atravessamento de olhares e contribuições de atores, dramaturgos, músicos, iluminadores, mágicos, estilistas, entre outros artistas que também se deixam atravessar pela obra da coreógrafa. Dentre seus principais trabalhos autorais estão: RÊVERIE – sonho de desastre cósmico com final feliz imaginado por uma atriz e uma bailarina. ou an uncontrolled response – 2013 (parceria com a atriz e dramaturgo Carolina Bianchi); Clarabóia – 2010 (Parceria com Andréia Yonashiro), Um Diálogo entre Dança e Música – 2010 (Parceria com o pianista Benjamim Taubkin), Sexo, Amor e Outros Acidentes – 2004 (prêmio APCA 2005 de Melhor Criação e Interpretação); Quase Ela – 3 Momentos de Saudade – 2008 (espetáculo convidado pela Bienal Sesc de Dança 2009, posteriormente apresentado em outros palcos brasileiros); 2 em Super 8 – 2003 (duo de dança em parceria com Fábio Dornas e Marcelo Poletto, que fez parte da programação do Rumos Itaú Cultural no ano 2004). Na música, Morena também realiza trabalhos como cantora em parceria com o baterista Victor Chaves.
Ficha Técnica
Direção Geral, Concepção e Coreografia: Morena Nascimento.
Assistente de Direção: AnaCris Medina e Jaya Batista.
Bailarinos: Bárbara Elias, Camila Bosso, Chico Lima, Danielli Mendes, Malu Avelar, Mariza Virgolino, Rafael Sertori, Rafaela Sahyoun, Ricardo Januário e Wellington Al.
Dramaturgia: Carolina Bianchi e Morena Nascimento.
Textos: Carolina Bianchi.
Desenho de Luz e Operação: Fábio Retti.
Figurino: Dudu Bertholini.
Assistente de Figurino: Lara Coimbra, Lucas Hideki e Marcello Martins.
Pesquisa Musical para Trilha Sonora: Morena Nascimento (Faixas compostas pelo músico Victor Chaves).
Engenheiro de Som: Daniel Martins.
Contrarregras: Jaya Batista e Rodrigo Vieira.
Aulas Corpo em Diáspora: Luciane Ramos.
Aulas de Pilates: Mariza Virgolino.
Professores Convidados: Ana Thomas, Angela Nolf, Beth Bastos, Danielli Mendes, Jaya Batista, Mariana Lemos, Morena Nascimento e Rodrigo Vieira.
Produção Artística: AnaCris Medina.
Produção Executiva: Paulo Carvalho.
Assessoria de Imprensa: Arteplural.
Design Gráfico: Lucas Länder.
SERVIÇO
ANTONIA: Como Se Em Sua Dança Quisesse Reinventar o Exaustivo Ciclo do Nascer e Morrer
Morena Nascimento
Temporada de 10 a 27 de março de 2016
Ingressos: Grátis
Classificação: 14 anos.
Duração: 120 minutos.
De 10 a 13 de março
Quinta a sábado, às 20h e domingo, às 19h
Local: Galeria Olido (sala Olido)
Avenida São João, 473 – Centro – São Paulo/SP
Capacidade: 236 lugares
De 18 a 20 de março
Sexta e sábado, às 21h e domingo, às 19h
Local: Teatro Municipal Arthur Azevedo
Av. Paes de Barros, 955 – Mooca – São Paulo/SP
Capacidade: 349 lugares
De 25 a 27 de março
Sexta e sábado, às 21h e domingo, às 19h
Local: Teatro Municipal Paulo Eiró
Av. Adolfo Pinheiro, nº 765 – Alto da Boa Vista – Santo Amaro – São Paulo/SP
Capacidade: 467 lugares