Espetáculos e debates internacionais de circo, dança e teatro refletem sobre a crítica nas artes cênicas
Com curadoria de Valmir Santos, Crítica em Movimento recebe convidados do Brasil, Chile e Portugal para conversas sobre como o olhar crítico vem sendo exercido nestes três campos das artes cênicas e apresenta, ainda, o solo de dança Fados e Outros Afins, da coreógrafa Mariana Muniz, a peça Isso não é um Sacrifício, com a atriz Fernanda D´Umbra, e o espetáculo circense Sobrevoltas, um dos selecionados no programa Rumos Itaú Cultural 2015-2016; a programação será aberta com um encontro com Mariangela Alves de Lima, um dos ícones da crítica teatral no país
O Itaú Cultural realiza, de 6 a 10 de setembro (quarta-feira a domingo), Crítica em Movimento. A programação reúne artistas, jornalistas, críticos, pesquisadores e gestores brasileiros, chilenos e portugueses, em debates e espetáculos que refletem sobre as presenças e as lacunas da prática da crítica no teatro, na dança e no circo na atualidade. Com curadoria do jornalista, crítico e pesquisador Valmir Santos, a atividade levanta questões a respeito da prática e dos espaços dados a esse o olhar especializado. Complementa, ainda, o campo das ideias com a apresentação de três espetáculos dentro desses segmentos das artes cênicas.
“Essa programação procura refletir de forma mais ampliada sobre o circo, o teatro e a dança a partir da crítica”, destaca o curador Valmir Santos. “No teatro, onde era importante para a relação com a classe artística, ela vem sofrendo uma curva decrescente, com menos espaços, e com menos qualidade”, continua. O curador observa, ainda, um período de recuo na crítica em relação à dança, na atualidade, e uma grande lacuna no circo, quase sem esse tipo de registro. “A crítica é um ofício em crise e em transe”, conclui.
Em busca desse reencontro com o olhar mais apurado para as artes cênicas, Crítica em Movimento abre no dia 6 de setembro (quarta-feira), às 20h, com uma conversa com Mariangela Alves de Lima sobre o pensar e o fazer crítico. Personagem icônica deste estilo jornalístico, que atravessou quatro décadas em atividade na mídia, ela faz uma participação rara para falar sobre a atividade, após deixar as redações em 2011. “É importante abrir com um encontro com uma pessoa como Mariangela, que sempre teve a singularidade de abordar em suas críticas o espetáculo de forma mais filosófica sobre o texto, sempre vendo a peça para além dela. Esse encontro será uma oportunidade rara, porque ela tem um legado de texto e produção dentro da crítica teatral”, analisa o curador.
A série de quatro mesas que integram a programação tem início no dia 7 de setembro (quinta-feira), às 14h, com foco no teatro. Com mediação do dramaturgo, diretor e fundador do Teatro de Narradores José Fernando de Azevedo, Problemas do trabalho e da arte da crítica reúne o crítico de teatro brasileiro Wellington Andrade e o português Jorge Louraço Figueira, ex-crítico de teatro no jornal Público, um dos principais diários daquele país. Eles debatem sobre como as transformações da era digital impactam o trabalho profissional, questionando de que forma a precarização do ofício na imprensa escrita pode estar ligada à irrelevância da crítica para a sociedade.
No dia 8 (sexta-feira), o debate é duplo. Às 14h, a mesa Quem tem medo do popular? O vão entre o circo e a crítica coloca este gênero na berlinda. A análise é da pesquisadora campineira e integrante da quarta geração circense no Brasil Erminia Silva e da gestora Fátima Pontes, que há 17 anos coordena a área executiva e artística da Escola Pernambucana de Circo. Com mediação do diretor e artista circense Rodrigo Matheus, elas avaliarão que fatores influenciam no afastamento histórico da crítica em relação ao circo no Brasil.
Às 16h30 desse mesmo dia, a pesquisadora e gestora chilena Maria José Cinfuentes, diretora artística do Nave – Centro de Criação e Residência, divide com o coreógrafo e criador brasileiro Daniel Kairoz a mesa Margem para o gesto autocrítico na recepção em dança. A mediação é da crítica, curadora de dança e artista do corpo Flávia Couto. A partir da ideia de que as danças são criadas em diferentes ambientes, meios culturais e sociais, a proposta é analisar como a crítica, baseada em conceitos pressupostos, pode desconsiderar quem cria, onde cria e para quem cria as obras analisadas.
No sábado, dia 9, às 14h, a crítica propriamente dita será o tema da última mesa do encontro. Ações, iniciativas e transformações da prática da crítica reúne a jornalista, crítica e pesquisadora de teatro Pollyanna Diniz, a artista Sheila Ribeiro e a jornalista, crítica teatral e doutora em artes cênicas pela USP Beth Néspoli. Elas representam, respectivamente, a plataforma DocumentaCena, o projeto 7X7 e o site Teatrojornal – Leituras de Cena. O trio compartilha experiências a partir do olhar sobre a ação e atuação dos coletivos, que vêm dinamizando as relações entre artistas, públicos, críticos e gestores culturais, potencializando ainda o pensamento crítico.
“A ideia geral é analisar o pensamento crítico de forma expandida, e não só em relação ao lado artístico. É importante considerar como a crítica pode ser relevante à sociedade”, arremata Valmir Santos.
Palco
Apostando na apreciação como também parte do falar sobre crítica, a programação de Crítica em Movimento reserva espaço, ainda, para a apresentação de espetáculos de dança, teatro e circo. No palco, as três linguagens das artes cênicas mostram ainda que podem quebrar as barreiras e se fundirem.
É o caso de Fados e Outros Afins, espetáculo de dança que a coreógrafa Mariana Muniz apresenta no dia 8 (sexta-feira), às 20h, com direção artística da diretora teatral Maria Thaís. Criado a partir de uma imersão nas origens brasileiras e nordestinas da coreógrafa, o solo tem uma dramaturgia concebida a partir do corpo, como uma viagem poética de Lisboa a Recife. Na criação e composição, ela e Mariana exploram o hibridismo de linguagens artísticas da dança e do teatro, que servem à ampliação dos limites das conexões entre questões cênicas, coreográficas, dramatúrgicas, visuais e performáticas.
No dia 9 (sábado), também às 20h, a peça Isso não é um sacrifício leva à cena a atriz Fernanda D´Umbra na pele de uma mulher prestes a ser apedrejada até a morte. O espetáculo concebido e dirigido por Christiane Tricerri, com texto de Fernando Bonassi, trata da violência, do descarte diário e do apedrejamento feito todos os dias, e em especial nesta mulher, que já foi usada de diversas formas e agora será descartada.
O ato final de Crítica em Movimento fica por conta da apresentação do circense Sobrevoltas no dia 10 (domingo), às 19h, com reapresentação no instituto no dia 12 (terça-feira), às 20h. Contemplado pelo programa Rumos Itaú Cultural 2015-2016, este espetáculo de circo sobre o próprio circo reúne os integrantes do coletivo Circo Enxame Giulia Tateishi, Jan Leca e Renato Mescoki, o músico percussionista Rubens de Oliveira e o diretor Rodrigo Matheus, da cia. Circo Mínimo. Com corda bamba, malabarismo, corda lisa, acrobacia e música ao vivo, a trama trata de três circenses brasileiros e recém formados em escolas superiores do gênero na Europa e Canadá, que voltam ao seu país e dividem com o público seus anseios, questionamentos e satisfações enquanto artista.
Programação
Dia 6 de setembro – Quarta-feira
20h
Diálogo com Mariangela Alves de Lima
Sala Multiúso (Piso 2)
Capacidade: 120 lugares
Duração: 90 minutos
Classificação indicativa: Livre
Dia 7 de setembro – Quinta-feira
14h
Mesa 1: Teatro
Problemas do trabalho e da arte da crítica
Com Wellington Andrade (SP) e Jorge Louraço Figueira (Portugal). Mediação: José Fernando de Azevedo (SP)
Piso -2
Capacidade: 100 lugares
Duração: 180 minutos
Classificação indicativa: Livre
Dia 8 de setembro – Sexta
14h
Mesa 2: Circo
Quem tem medo do popular? O vão entre o circo e a crítica
Com Erminia Silva (SP) e Fátima Pontes (PE). Mediação: Rodrigo Matheus (SP).
Piso -2
Capacidade: 100 lugares
Duração: 120 minutos
Classificação indicativa: Livre
16h30
Mesa 3: Dança
Margem para o gesto autocrítico na recepção em dança
Com Maria José Cifuentes (Chile) e Daniel Kairoz. Mediação: Flávia Couto (SP).
Piso -2
Capacidade: 100 lugares
Duração: 120 minutos
Classificação indicativa: Livre
20h
Espetáculo de dança Fados e Outros Afins
Com Mariana Muniz. Direção Artística: Maria Thaís.
Sala Multiúso (Piso 2)
Capacidade: 70 lugares
Duração: 40 minutos
Classificação indicativa: Livre
Dia 9 de setembro – Sábado
14h
Mesa 4: Crítica
Ações, iniciativas e transformações da prática da crítica
Com Pollyanna Diniz, Sheila Ribeiro e Beth Néspoli.
Piso -2
Capacidade: 100 lugares
Duração: 210 minutos
Classificação indicativa: Livre
20h
Peça Isso não é um sacrifício
Com Fernanda D´Umbra
Piso -2
Capacidade: 100 lugares
Duração: 45 minutos
Classificação Indicativa: 14 anos
Dia 10 de setembro – Domingo
19h
Espetáculo Sobrevoltas
Com Giulia Tateishi, Jan Leca, Renato Mescoki e Rubens de Oliveira. Direção: Rodrigo Matheus.
Sala Itaú Cultural (Piso Térreo)
Capacidade: 224 lugares
Duração: 55 minutos
Classificação Indicativa: Livre
Crédito da foto: Cena de Fados e Outros Afins, com Mariana Muniz | Foto: Claudio Gimenez
Serviço
Ciclo de debates Crítica em Movimento
De 6 a 10 de setembro de 2017
Quarta a domingo
Diversos horários
Local: Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149 – Bela Vista – São Paulo/SP
(Estação Brigadeiro do Metrô)
Ingresso: Gratis
Distribuição de ingressos:
– Público preferencial: 2 horas antes do espetáculo (com direito a um acompanhante)
– Público não preferencial: 1 hora antes do espetáculo (um ingresso por pessoa)
Informações: (11) 2168-1776/1777
Toda a programação tem interpretação em Libras.
Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108
Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:
3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.
Acesso para pessoas com deficiência