O mundo em suspensão após um grande desastre nuclear, como o ocorrido em Fukushima. Foi a partir dessa imagem que a escritora austríaca Elfriede Jelinek, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 2004, escreveu o texto teatral Kein Licht. É ele que inspirou SEM LUZ, espetáculo de dança do coletivo Teatro do fim do mundo, que estreia na Oficina Cultural Oswald de Andrade no próximo dia 31 de maio, quinta-feira, às 20 horas. A montagem foi contemplada pelo Edital Proac Primeiras Obras de Dança de 2017.
Espetáculo de dança parte do texto da premiada autora austríaca para criar imagens de um mundo que tenta sobreviver após uma enorme catástrofe.
No palco, estão os intérpretes-criadores Artur Kon e Renan Marcondes. Artur estreia na dança e Renan, que vem da perfomance, também assina a direção do trabalho, que tem ainda direção de movimento de Carolina Callegaro (os dois diretores compõem o Pérfida Iguana, núcleo parceiro na criação) e provocação cênica de Andreia Yonashiro. A concepção sonora é de Sérgio Abdalla Saad Filho e o figurino de Renatto Souzza.
Do teatro para dança
Pouco conhecida no Brasil, Elfriede Jelinek é uma das mais importantes dramaturgas da atualidade. Artur, que estuda a autora austríaca em seu doutorado, já participou como ator e dramaturgista de duas montagens teatrais de Jelinek, Peça Esporte (2015) e Dramas de Princesas (2016), mas queria experimentar novas linguagens com essa dramaturgia pouco convencional que foi disparadora para a criação de SEM LUZ. Ele levou a ideia aos artistas que compõe o projeto e deu início à fase de criação.
“Partimos de uma recusa da atividade positiva do corpo como centro inquestionável da dança, buscando antes um limiar entre vida e morte, movimento e paralisia, corporalidade e espectralidade”, explica o diretor e intérprete Renan Marcondes. “Queríamos que de algum modo o corpo fosse desaparecendo em meio ao cenário, de modo que o próprio espaço se tornasse mais visível. O corpo é movido por alguma coisa, uma radiação que está no ar, e que ele capta, que penetra nele e num limite o desfaz”.
Essa proposta gera uma montagem em que o protagonismo não é dos performers e, sim, de extensos bastões de cobre manipulados pelos artistas em cena. “Nos interessa muito o movimento desses objetos que não conseguimos controlar, a sonoridade e imagens que são criadas por eles no ambiente onde se dá a cena”, explica Artur. “A ideia de ‘fim de mundo’, que está na peça bem como no nome do coletivo, nos faz pensar que esse mundo é (ainda) algo vivo, que os objetos que o habitam podem resistir à nossa ação sobre eles, ação essa que parece cada dia mais nos levar à beira do colapso”.
O texto de Eldriede Jelinek também aparece, sem contudo ser enunciado teatralmente, mas ajudando a criar as imagens desse mundo após uma grande catástrofe. O cenário e figurinos completamente cinzas, dialogando com uma luz completamente branca e a trilha sonora composta de fragmentos do texto completam os elementos da montagem.
Criadores
Andreia Yonashiro é coreógrafa e bailarina. Criou em 2008 sua plataforma de pro- dução Ornamento da Massa e em 2001 o coletivo Micrantos. Através destes, realizou os trabalhos: Trio, ao lado de Mário Del Nunzio, Henrique Iwao e Marcelo Muniz (MIS, contemplado com edital Proac, 2011), Toró (Teatro Plínio Marcos, Funarte, Brasília 2010), Um leite derramado (Bienal SESC de Dança, 2009), Felisdônio (Semanas de Danças do CCSP 2009), A flor boiando além da escuridão (Teatro da Universidade de Bolonha, Itália, 2007) e Macabéa em Tempo de Morangos (Teatro Santa Cruz, 2006). Além de seu trabalho autoral, sua atuação recente inclui a parceria na direção dos espetáculos de dança Claraboia (Centro de Cultura Judaica, Galeria Olido e SESC Belenzinho, contem- plado com o Prêmio Funarte Klaus Vianna e com o Fomento à Dança para a cidade de São Paulo) e Sexo, Amor e outros Acidentes de Morena Nascimento (Teatro da Dança, São Paulo) e a proposição de pequenas intervenções para o trabalho (ver [ ] ter) da Cia Les Commediens Tropicales (Centro Cultural São Paulo, Contemplado com Fomento de Teatro de São Paulo). É responsável pela direção e coreotopologia da dança-instalação Pistilo (Centro Cultural da Juventude, São Paulo, contemplado com os editais Primeiras Obras e Proac 2010). É responsável pela produção e curadoria da atual ocupação da Sala Renée Gumiel da Funarte, em São Paulo, com o projeto “Dança e coreografia”.
Artur Kon é bacharel em Artes Cênicas – Interpretação Teatral pela UNICAMP, mestre (orientação Ricardo Fabbrini) e doutorando (orientação Celso Favaretto) em Filosofia na FFLCH-USP, linha Estética e Filosofia da Arte. Fundou a Cia de Teatro Acidental, onde trabalhou como ator e dramaturgista nas obras Mahagonny (2008, direção Marcelo Lazzaratto), Macacos me mordam (2009, direção coletiva), O rinoceronte (2011, direção Carlos Canhameiro), O que você realmente está fazendo é esperar o acidente aconte- cer (2014, direção Carlos Canhameiro) e Peça Esporte (2015, direção Clayton Mariano). Em 2010 ingressou como ator convidado na Cia de feitos, em São Paulo, onde criou os espetáculos infantis O pato, a morte e a tulipa (2010), Selma (2013) e Achados e per- didos (2015), dirigidos por Carlos Canhameiro. Participou como colaborador teórico do projeto de Fomento “Cena insurgente”, do Teatro de Narradores, ministrando um minicurso sobre a filosofia de Jacques Rancière, e do projeto “Baal.material”, da Cia Les Commediens Tropicales, com palestra sobre a possível atualidade do texto Baal, de Bre- cht. Escreveu as peças MateriaIVONE, encenada pelo coletivo Pérfida Iguana como obra de dança, e Aos peixes (peça-sermão).
Carolina Callegaro é criadora, intérprete e pesquisadora da dança. Seus principais interesses são a Improvisação, pensada como estratégia de composição dramatúrgica do corpo e da cena, e o Contato Improvisação, técnica que começou a estudar em 2005, no Estúdio Nova Dança, em São Paulo. Antes disso, se graduou no bacharelado e na licenciatura em dança na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Em 2013 formou o polo de criação Pérfida Iguana em parceria com Renan Marcondes, onde pesquisa a relação entre a dança contemporânea e as artes visuais. A peça mais recente desta parceria, intitulada Matéria Ivone, estreou em dezembro de 2016. Em 2015, o Pérfida Iguana estreou a instalação coreográfica Um instante anterior à extrema violência e a peça solo de Renan Como um jabuti matou uma onça e fez uma gaita de um de seus ossos para a qual Carolina fez a preparação corporal. urante o ano de 2017, trabalhou também como intérprete na peça Deslocamentos, de Marta Soares e estabeleceu outras duas parcerias, uma com a bailarina Érica Tessarolo, para quem fez provocação na pesquisa que culminou no solo O Peixe, e com a bailarina e performer Clarissa Sacchelli, com quem criou e atuou na performance Boas Garotas. De 2006 a 2016 atuou na Cia. Damas em Trânsito e os Bucaneiros, dirigida por Alex Ratton Sanchez, como criadora e intérprete. Esteve presente em todas as criações do grupo: Pon- to de Fuga (2008 e 2015), Puntear (2009), Duas Memórias (2010), Lugar do Outro (2011), Espaços Invisíveis (2013) e no vídeodança Sobre ruas e rios (2104). Trabalhou também com Marta Soares na criação e interpretação da peça Um corpo que não aguenta mais (2007 a 2009). Foi bailarina e criadora da Cia. Perdida, dirigida por Juliana Moraes, de 2008 a 2013, onde atuou em Peças curtas para desesquecer (2012 e 2013) e (depois de) Antes da Queda (2008 a 2011). Foi prepa- radora corporal da companhia de teatro Les Commediens Tropicales de 2011 a 2014 e, durante o ano de 2009, foi artista-orientadora do Projeto Dança Vocacional, das secretarias de cultura e educação da cidade de São Paulo. Entre 2001 e 2008 trabalhou com o grupo Wasu.cia, formado por ela e outros alunos do curso de graduação em Dança e em Artes Cênicas da Unicamp. Neste grupo, três criações em parceria mais profunda com Clara Gouvêa se destacaram: Jardim de ro- sas mudas, espetáculo que ficou em cartaz de abril à junho de 2007 na Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, em São Paulo (contemplado pelo PAC n o 4 de 2006 – Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo), e Pour les deux e Abrir a porta da casa, que ficaram em temporada na mostra O Feminino na Dança do Centro Cultural São Paulo em 2004 e 2006 respectivamente.
Renan Marcondes é artista multimídia e pesquisador. Seu trabalho compreende os campos da performance, coreogra-fia e instalação. Doutorando pelas artes cênicas da ECA USP, Mestre em Poéticas Visuais pela UNICAMP (bolsa CAPES) e especialista em História da arte: teoria e crítica pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, instituição onde também obteve o bacharelado em Artes Visuais, quando realizou Iniciação Científica com orientação de Cauê Alves e apoio FAPESP. Artista premiado com o Proac Primeiras Obras de Dança 2014, 1o lugar no Setor de performance na sp-ar- te 2016; também premiado no 26o Salão de Arte da Juventude do SESC Ribeirão Preto e prêmio estímulo do 40o Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto. Membro do corpo editorial da eRevista Performatus desde 2013. Realizou pen- samento visual (cenografia e figurino) das peças BAAL.material (cia Les Commediens Tropicales) e Dramas de Princesas (ciadasatrizes). Exposições individuais: Temporada de Projetos – Paço das Artes/MIS (2017), O que o corpo abriga (Gui- marães, CAAA – Portugal – 2017), Mostra Premiados – 26o Salão de Arte da Juventude (SESC Ribeirão Preto, 2015), Contra corpo (Oficina Cultural Oswald de Andrade, 2015), Objeto Indireto (OMA Galeria, 2016). Principais exposições e mostras recentes: 7o Salão dos artistas sem galeria (Zipper Galeria, Galeria Sancovsky, Orlando Lemos Galeria e Potrich Galeria, 2015-2016), 11a VERBO (Galeria Vermelho, 2015), [PER-FORMA] (SESC Bom Retiro, 2016); 48o SAC (2016), 41o SARP (2016), MOVIMENTA #1 e #2 (2015-2016), 65° Salão de Abril de Fortaleza (2015); ABRE ALAS 10 (A gentil carioca, 2015).
Ficha Técnica
Intérpretes-criadores – Artur Kon e Renan Marcondes.
Direção – Renan Marcondes.
Direção de movimento – Carolina Callegaro.
Trilha sonora – Sério Abdalla Saad Filho.
Figurinos – Renatto Souza.
Provocação – Andreia Yonashiro.
Produção – Mariana Otero.
Crédito da foto: Divulgação
Serviço
Sem Luz
Coletivo Teatro do Fim do Mundo
De 31 de maio a 16 de junho de 2018
Quintas e sextas, às 20h, sábados às 18h
Local: Oficina Cultural Oswald de Andrade
Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro – São Paulo/SP
Ingresso: Grátis (retirada de ingressos uma hora antes do horário da apresentação)
Informações: (11) 3222-2662
Classificação: Livre
Duração: 60 minutos
Capacidade da sala: 40 lugares.