Com programação ampliada e diversa a mostra Todos os Gêneros entra em sua quarta edição no Itaú Cultural
Em sua 4ª edição, a mostra reúne artistas e convidados para abordarem questões como intersexualidade, transgeneridade e representatividade, em shows, peças, performances, espetáculos de dança, mostra de curtas, sessão maldita e debates; a programação integra, também, as atividades do Fim de Semana em Família
De 13 a 25 de junho (terça-feira a domingo), o Itaú Cultural abre mais uma vez os seus espaços voltados ao público e a programação às questões de identidade de gênero, sexualidade, corpo e afetividade, na quarta edição de Todos os Gêneros: Mostra de Arte e Diversidade. Com curadoria do Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural, em parceria com os Núcleos de Audiovisual e Literatura, de Música e de Comunicação, o instituto recebe convidados de oito diferentes estados do Brasil para apresentar a produção artística que surge a partir do tema, abrindo o debate e convidando o público à reflexão a respeito de si e do outro. Tudo começa com a apresentação do espetáculo No Soy Maricon, do grupo de atores mineiro Toda Deseo, e encerra com a performance cênica musical de Linn da Quebrada.
Ao longo de 13 dias, o público confere sete peças, seis performances, dois shows, dois espetáculos de dança e dois workshops, uma mostra com exibição de 10 curtas-metragens – a qual se expande ao Canal Itaú Cultural, hospedado no site do instituto, com quatro longas-metragens –, ciclo de debates, palestras. A programação inclui um encontro com proponentes contemplados no programa Rumos Itaú Cultural 2015-2016, que desenvolvem projetos com temática afim. Além das atividades, como na edição anterior, uma cabine instalada no piso térreo do instituto recolhe depoimentos do público a respeito de questões levantadas ao longo da programação, com a proposta de construir uma memória da mostra, assim como mapear o pensamento sobre gênero.
Performances e danças
A quarta edição de Todos os Gêneros amplia sua programação cênica às performances, recebendo na quarta-feira, 14, a artista e ativista paulista Dani Barsoumian, em Projeto Desidentidades | Sapatão na Medida, discutindo sobre construções, desconstruções e invenções de identidades, imaginário comum em relação às mulheres ditas “sapatonas”. Também de São Paulo, o performer Pedro Galiza mostra no dia seguinte 11 9 5167 1844, na qual se mantém disponível para receber ligações a qualquer momento em seu celular, colocando em cheque o que se faz quando se tem em mãos o número de telefone de um desconhecido.
No sábado, 17, as vedetes paranaenses da Casa Selvática apresentam Cabaré Selvático Rock Show, espetáculo multimídia de variedades, mesclando palavra, vídeo e música. Na terça-feira, 20, a piauiense Fernanda Silva mostra Involuntários da Pátria, performance provocada pelo impeachment de Dilma Roussef, pela aula pública que assistiu do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro e pelo encontro com Sonia Sobral, ex-gerente do Núcleo de Cênicas do instituto, em uma residência artística em Teresina.
Gordura Trans, que o carioca Miro Spinelli leva ao público na quarta-feira, 21, explora a materialidade e a subjetividade do corpo gordo, considerando suas intersecções com gênero. No sábado, 24, o performer Filipe Porto, do Tocantins, apresenta Schadenfreude – Do Luto à Festa. A palavra alemã schadenfreude significa “alegria na desgraça alheia” e é o ponto de partida para reflexões sobre padrões de relacionamento, problematizando os papéis de gênero.
Na segunda-feira, dia 19, tem dupla programação de dança. Às 18h, os bailarinos pernambucanos Rafael Sisant e Wendell Britto apresentam Casa Azul, espetáculo inspirado nas obras de Frida Kahlo, que usa as artes visuais e a dança para refletir sobre os conflitos inerentes ao existencialismo humano na contemporaneidade. Na sequência, o também pernambucano Cleybson Lima faz um mergulho na vida da transexual Gisberta Salce em Sentimento Gis, dando voz à protagonista de sua pesquisa poética e buscando quebrar qualquer forma de enquadramento.
Teatro
Mantendo a tradição das terças-feiras voltadas ao teatro no Itaú Cultural, Todos os Gêneros abre no dia 13 de junho, às 20h, com a peça No Soy un Maricón, na qual o grupo de atores mineiros Toda Deseo usa o formato de show para contar a história de quatro travestis em busca da fama, abordando direitos humanos, democracia e questões ligadas às minorias transexuais. Nos dias 14 e 15 (quarta-feira e quinta-feira), o coletivo artístico cearense As Travestidas apresenta Trans-Ohno, tratando da travestilidade no teatro e na dança, em referência ao trabalho do dançarino e coreógrafo de butô Kazuo Ohno.
Na sexta-feira, 16, o coletivo carioca Complexo Duplo, questiona em Há Mais Futuro que Passado – um Documentário de Ficção o lugar da mulher na história da arte e a predominância masculina e europeia dentro do segmento, a partir de pesquisa sobre artistas de diferentes países da América Latina nos anos 1960, 1970 e 1980. O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, que a atriz Renata Carvalho interpreta no sábado, 17, retrata Jesus no tempo atual como uma mulher transgênero, recontando histórias bíblicas em versão contemporânea e refletindo sobre opressão e intolerância sofridas por pessoas trans assim como outros grupos vistos como minorias pela sociedade.
Nos dias 20 e 21 (terça-feira e quarta-feira), o palco do instituto recebe a peça Tom na Fazenda. Com os atores Armando Babaioff, Gustavo Vaz, Kelzy Ecard e Camila Nhary em cena, a trama se passa em uma fazenda onde um publicitário acompanha o funeral de seu companheiro, e acaba descobrindo que a sogra nunca tinha ouvido falar dele e que não sabia que o filho era gay. Na quinta-feira, 22, as artistas Estela Lapponi, Edi Cardoso e Thaís Dias apresentam Mulherio Encena, com performances sobre mutilação e normatividade, criadas em resposta à carta de uma leitora sobre cirurgia de diminuição do clitóris enviada ao jornal feminista Mulherio, na década de 1980.
A programação teatral da mostra fecha no dia 23, sexta-feira, com a peça Filosofia na Alcova, apresentada às 23h59, na sessão maldita. Nesta adaptação do polêmico texto do Marquês de Sade, as marionetes do grupo mineiro Pigmalião Escultura que Mexe tratam, sem limites, sobre sexo, violência e questionamentos religiosos e morais.
Debates
De 15 a 17 de junho (quinta-feira a sábado), Todos os Gêneros reserva espaço para um ciclo de debates, palestra e exibição de curtas abordando identidade, sexualidade e arte, realizado em parceria com o projeto [SSEX BBOX].
No primeiro dia, o ciclo começa às 11h, com o tema Entre o Pênis e a Vagina: a Existência e Resistência dos Corpos Intersexo. Na mesa, o militante e produtor de audiovisual Alex Bencke, o sociólogo e Mestre em ciências humanas e sociais Amiel Vieira e Luiza Freitas dão seus depoimentos como pessoas trans e intersexo sobre os meios de entender o próprio corpo, seus afetos e desejos, longe das divisões binárias mulher/homem ou feminino/masculino. Às 15h, a travesti, transfeminista e pesquisadora Helena Vieira comanda O Diálogo e o Cuidado como Investimento Humano, abordando temas como a escuta autoritária, o ativismo virtual, o autocuidado, o cuidado com o outro e as marcas identitárias e sociais de cada um.
A mesa Transmasculinidades e Não Binariedade no Movimento LGBTQIA: Identidades, Estéticas e Proposições abre a programação no dia 16, com a participação de Lam Augusto de Matos, coordenador nacional do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (Ibrat), do youtuber Hugo Nasck e de Priscilla Bertucci, diretor e um dos fundadores do [SSEX BBOX]. A representatividade no universo trans nas artes é colocada em pauta em As Artes e Artistas Trans: uma Reflexão sobre Representatividade, mesa que acontece à tarde com Helena Vieira, a dramaturga, atriz e diretora teatral Leonarda Glück, a atriz, performer e cantora Lua Lucas, e a atriz Renata Carvalho, com mediação da jornalista Fabiana Moraes.
O debate sobre presença feminina no mercado literário retoma o ciclo no dia 17, às 11h, em Sororidade Literária: o Gênero nas Linhas e Entrelinhas, mesa que reúne a educadora social Bel Santos, a livreira Juju Gomes e a escritora Mariana Mendes, com mediação da também escritora Luana Chnaiderman de Almeida. Às 15h, o ciclo de filmes exibe o curta Aproveite sua Próstata, minidoc de Vinícius Nascimento e Priscilla Bertucci, que, na sequência, conversam com o público sobre os homens experimentarem o próprio corpo.
Infantil
A programação Fim de Semana em Família, que acontece no período, também terá suas atividades direcionadas ao tema. Nos dias 17 e 18 de junho, às 14h, a artista Mônica Cardim reflete com as crianças se as brincadeiras precisam ser classificadas como de meninas ou de meninos na oficina Brincar de Quê? Às 16h, o Coletivo Cultural Sankofa apresenta o espetáculo Aonde Nasce o Arco-Íris?, no qual Maria, uma boneca de pano insatisfeita com sua forma que não revela sua identidade de menina e Rafa, uma criança solitária e apaixonada por revistas de moda, conhecem Joca, o filho do vento.
Nos dias 24 e 25, a oficina Feliz Aniversário, João!, de Júlia Rosemberg e Priscilla Bertucci com ilustrações de Thais Stoklos, promove a experimentação de roupas e acessórios pelos participantes, com o objetivo de discutir, de forma lúdica, a desconstrução de estereótipos de gênero. Na sequência, o Teatro da Conspiração de Santo André apresenta o espetáculo A Princesa e a Costureira, inspirado no livro homônimo de Janaína Leslão, que conta a história de uma princesa prometida em casamento ao príncipe do reino vizinho, mas que se apaixona pela costureira responsável por fazer seu vestido de noiva.
Audiovisual e cenas comentadas
A programação recebe por dois dias, sempre às 19h, uma Mostra de Curtas direcionada às subjetividades em torno das questões de gênero, identidade e sexualidade. Após as exibições das produções em animação, documentário e ficção, acontece um debate com as diretoras e os diretores.
Na quinta-feira, dia 22, a sessão reúne Tailor – o filme (2017, 10min), de Calí dos Anjos, Love Snaps (2016, 13min), de Daniel Ribeiro e Rafael Lessa, Madmoiselle do Rap (18min), de Raphael Gustavo da Silva, Mulheres Negras: Projetos de Mundo (2016, 25min), de Day Rodrigues e Lucas Ogasawara, e A Gis (2016, 19min), de Thiago Carvalhaes. No dia seguinte, 23, são exibidos Vênus Filó, a Fadinha Lésbica (2016, 6min), de Sávio Leite, Parte do Processo (2015, 14min), de Rodrigo Cavalheiro, Sobre Papéis (2014, 22min), de Pedro Paulo de Andrade, Em Defesa da Família (2016, 21min), de Daniella Cronemberger e Getsemane Silva, e Submarino (2015, 20min), de Rafael Aidar.
A programação recebe na sexta-feira, dia 23, às 15h, proponentes contemplados na mais recente edição do programa Rumos Itaú Cultural, para comentarem cenas de seus longas-metragens que têm como temática o gênero. Brunna Laboissiere fala sobre Fabiana, filme que aborda a trajetória de uma mulher trans caminhoneira, e Thaís Borges conta a respeito Callins, que busca revelar as subjetividades de um acampamento de ciganas formado por mulheres.
Além da programação presencial, o Itaú Cultural segue de 14 a 25 de junho com a mostra no Canal do instituto (www.itaucultural.org.br/explore/canal/), disponibilizando na íntegra, sempre a partir das 21h, quatro longas-metragens brasileiros que abordam algumas das discussões propostas em Todos os Gêneros. Meu Nome É Jacques (2016, 80min), de Angela Zoé, estreia no Canal no dia 14, Favela Gay (2014, 71min), de Rodrigo Felha, quinta-feira, dia 17, Bombadeira (2015, 75min), de Luis Carlos de Alencar, no dia 21, e Vestidas de Noiva (2016, 50min), de Fabia Fuzeti e Gabriela Torrezani, no sábado, 24.
Shows
O último final de semana de Todos os Gêneros: Mostra de Arte e Diversidade é permeado pela música. No sábado, dia 24, Caio Prado, Daniel Chaudon, Diego Moraes e Edu Capello apresentam o espetáculo #Não Recomendados. Por meio de músicas autorais e releituras de composições de artistas como Chico Buarque, Gilberto Gil e Alexandre Pires, o show se propõe a transformar, questionar e provocar os padrões comportamentais da sociedade, usando para isso letra, música, cenário, projeções e figurinos.
No domingo, 25, o palco é da performance cênica musical de Linn da Quebrada. Com um repertório autoral marcado pelas questões relativas ao corpo preto, periférico, bicha e transviadx da artista, Linn usa a voz para empoderar os corpos, buscando modificar a relação ou o olhar sobre as pessoas e sobre si.
Ação formativa
Em paralelo às atividades artísticas, a mostra agrega ainda duas ações formativas. No Workshop Gênero e Performance, que acontece nos dias 19 e 20 de junho no Itaú Cultural, o dramaturgo uruguaio Juan Sebastián Peralta aborda o gênero como performance social, destacando também a relação entre as performances artísticas/cênicas e o gênero. Os interessados devem se inscrever de 2 a 9 de junho pelo site www.itaucultural.org.br. O resultado da seleção será divulgado no dia 15 de junho.
Do dia 14 ao dia 17, a programação extrapola o espaço físico da sede do instituto e leva ao Teatro de Contêiner da Cia. Mungunzá, no Centro de São Paulo, a Oficina de Oratória, programação realizada pela companhia em parceria com o coletivo MEXA. A ação é voltada para o público diverso e pessoas em situação de vulnerabilidade social que residam no centro de São Paulo. São oferecidas 10 vagas e os interessados devem se inscrever pelo e-mail camilavalones@gmail.com.
SERVIÇO
Todos os Gêneros: Mostra de Arte e Diversidade
De 13 a 25 de junho de 2017
Terça-feira a domingo
Local: Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149 – Bela Vista – São Paulo/SP
(Estação Brigadeiro do Metrô)
Informações: (11) 2168-1776/1777
Acesso para pessoas com deficiência