Crédito da foto: Alex Merino
A abordagem da condição humana e social implícita nas obras de Kafka é de uma atualidade desconcertante e se aproxima do que julgamos urgente e fundamental discutir na sociedade contemporânea. Kafka nos dá uma visão ampla e original do indivíduo em relação ao meio em que está inserido. A opressão, o aprisionamento e a desesperança deste homem que traz em si as marcas de sofrimento de um mundo alienado são temas recorrentes em sua obra.
O escritor Checo faz uma análise crítica sobre o instituto da pena, analisando os seus limites, a sinistra imposição de sanções baseadas em castigos corporais pelo Estado e ilustra com clareza e precisão as barbáries que constituíam as técnicas medievais na aplicação dessas coações punitivas. É uma crítica aberta aos regimes despóticos, nos quais o processo judicial e o direito de liberdade são subjulgados.
O espetáculo Colônia Penal, montagem da Cia Carne Agonizante, com direção de Sandro Borelli, propõe que o insólito e o absurdo possam ser percebidos em várias situações: numa detalhada descrição de métodos de tortura dos regimes antidemocráticos abrigando e acobertando assassinos; na cruel e irônica omissão de um observador estrangeiro; na estranha relação entre o poder oficial e o condenado. A nova temporada do espetáculo acontece de forma online, de 13 a 28 de abril. Ao todo serão realizadas 8 exibições e em 04 delas, serão seguidas por bate-papo entre membros da Cia e público interessado. As ações integram o projeto contemplado no edital PROAC Expresso LAB Nº 37/2020 – Produção e temporada de espetáculo de dança com apresentação online.
O coreógrafo Sandro Borelli e grupo ampliam a pesquisa em direção às torturas cometidas pela ditadura militar no Brasil nas décadas de 60, 70 e 80, resultando na morte e desaparecimento de milhares de brasileiros contrários ao regime da época. Por meio de uma estrutura de gestos, ações e movimentos, constroem uma dramaturgia corporal teatralizada, para gerar um jogo de tensão no espectador.
Colônia Penal caracteriza-se como um atentado contra a dignidade humana. É o anti-herói kafkiano lançado, torturado e executado nos porões da ditadura militar brasileira.
Colônia Penal, por Sandro Borelli
“Poder criar Colônia Penal em 2013, inspirada na obra homônima de Franz Kafka e nos 21 anos de horrores da tortura na ditadura militar brasileira, foi a oportunidade de revirar dos escombros nossas mazelas civilizatórias e lagrimar pelas nossas feridas, ainda abertas, com sangue vertendo constantemente. Quanto mais o processo criativo avançava, mais o peito arfava de um misto de angústia, indignação e ira pelo processo histórico que o Brasil tem sido refém desde seu surgimento. Uma indústria de manufaturados tendo corpos humanos como matéria prima para alimentar o capital, a burguesia e uma parcela considerável da classe média alienada.
Através do corpo foi possível rever o passado e um presente que persiste em permanecer atuante. Uma história que ainda não foi passada a limpo, que protege os responsáveis e seus cúmplices das barbáries cometidas em nome da “Ordem e do Progresso”.
Colônia Penal é dedicada a todas as pessoas que morreram nas mãos dos açougueiros do Estado, aos torturados, perseguidos e desaparecidos. Aos milhares de indígenas e camponeses trucidados pelas mãos pesadas da farda. Às Marielles, Claras, Iaras, Anas, Marias, os Andersons, Antônios, Carlos, Beneditos… estão presentes.
O Brasil não está acima do seu povo, muito menos “deus” é o soberano de tudo. Assim deveria ser uma nação.”
Sobre a Cia Carne Agonizante
Companhia de dança independente que desenvolve pesquisas e criações desde 1997 tendo em seu repertório 27 peças coreográficas: “MR-8” (2020), “Konstituição – ré em segunda instância” (2020); “Balada da virgem – em nome de Deus” (2018), “Não tive tempo para ter medo” (2018), “Não te abandono mais, morro contigo” (2015), “Colônia Penal” (2013), “Eu em Ti” (2011), “Produto Perecível Laico” (2011), “Estado independente” (2009), “Artista da Fome” (2008), “Carne Santa” (2007), “Kafka in off” (2007), “Carta ao pai” (2006), “Adeus deus” (2005), “Ponto final da última cena” (2004), as duas últimas, montadas originalmente para o Balé da Cidade de São Paulo, e incorporadas ao repertório da companhia em 2010, “Gárgulas” (2004), “O processo” (2003), “Kazulo” (2002), “A metamorfose” (2002), “Versos íntimos” (2002, composta para a Distrito Companhia de Dança e incorporada ao repertório em 2010), “O abutre” (2003), “Jardim de tântalo” (2002/2008), “33 – O eu e o outro” (2001), “Senhor dos anjos” (2001/2009), “O canto preso” (1999/2008), “Solidão proclamada” (1998), e “Ifá – se querem gritar para o mundo”(1997).
O percurso do Grupo é pautado por uma dança teatralizada, seus trabalhos criativos, tem a intenção de gerar uma potência capaz de provocar reflexão na plateia e não deixá-la apenas na superfície do entretenimento banal.
Os espetáculos do seu repertório discutem justamente a resistência à massificação, que se contrapõe à transformação da vida em mercado e do homem em mercadoria. Trafega na contramão do mercado Shopping Center cultural muito preocupado com cifras e público e pouco inquieto com as relações sócio-políticas.
O ato de atuar/dançar, para a Cia Carne Agonizante, deve ser entendido como uma poderosa manifestação política cultural e social, movimento para desafiar padrões éticos e questionar o cotidiano da arte contemporânea.
Para os artistas do grupo, de nada adianta fazer uma revolução dos padrões coreográficos sem que com eles não sejam produzidas metamorfoses capazes de transformar a sociedade ou de questionar o status quo.
Diversos espetáculos da companhia viajaram pelo Brasil, o que indica repercussão e relevância do trabalho: 8º Danzénica – 2019 (La Paz/Bolívia); Mostra Gestos Contemporâneos – Sesc Porto Alegre (RS); Circulação Klauss Vianna 2015 (Manaus/AM, Porto Velho/RO, Palmas/TO e Alta Floresta/MT); Sesc Palladium (Belo Horizonte/MG); Mostra Sesi de Dança (Goiânia – 2014); Festival Viva a Dança em Salvador (2013), Festival de Dança e Teatro Mova-se em Manaus (2010), Festival Internacional de Dança Contemporânea “Mesa Verde” em Porto Alegre (2009), Festival Internacional de Teatro em Belém do Pará (2008), Festival de Dança Contemporânea de Itajaí/SC (2005), Festival Internacional de Londrina (2004),Porto Alegre Em Cena em Porto Alegre (2001), Festival de Teatro de Curitiba (1999), “Brasil com S”, em Nova York (1998), Festival de Dança, Teatro e Música de Buenos Aires, Argentina (1999) e no Festival “Danza Nueva”, no Peru (2002).
Ficha Técnica
Intérpretes: Alex Merino, Rafael Carrion, Renata Aspesi, Patrícia Pina, Yorrana Soares e Sandro Borelli
Concepção, direção e coreografia: Sandro Borelli
Assistente de Coreografia: Rafael Carrion
Trilha sonora e arte gráfica: Gustavo Domingues
Fotografia: Alex Merino e Júnior Cecon
Luz: Sandro Borelli
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Direção de produção: Júnior Cecon
Produção Audiovisual
Realização: resistencia904
Direção: Marcelo Colaiacovo e Demian Grull
Câmera: João Risi e André Souza
Áudio: Billy Comodoro
Montagem: Demian Grull
Serviço
Colônia Penal
Cia Carne Agonizante
De 13 a 28 de abril de 2021
Sempre às 20h
Ingresso: Grátis
Classificação Indicativa – 18 anos
Duração – 60 minutos
Dias 13, 14 e 15 de abril, às 20h
Exibição do espetáculo no Youtube da Cia Carne Agonizante https://www.youtube.com/user/
No dia 15/04 haverá um bate-papo após a exibição pela Plataforma Zoom
Dias 20 e 21 de abril, às 20h
Exibição do espetáculo no Youtube do Centro de Referência da Dança https://www.youtube.com/
No dia 21/04 haverá um bate-papo após a exibição pela Plataforma Zoom
Dia 22 de abril às 20h
Exibição do espetáculo na Mostra de Dança Aldir Blanc
Ação desenvolvida pelo Portal MUD – Museu da Dança
Reserva de ingressos gratuitos – Sympla.com.br/portalmud
Haverá um bate-papo após a exibição
Dias 27 e 28 de abril, às 20h
Exibição do espetáculo no Youtube das Oficinas Culturais/Oswald de Andrade
https://www.youtube.com/
No dia 28/04 haverá um bate-papo após a exibição pela Plataforma Zoom