E MAR ANHA DO é um filme de dança do Coletive Danças em Transições, com mediação e provocação de Pol Pi, coreógrafo trans brasileiro baseado na França, e performance de Adda Risoppe, Alan Athayde, Brisas Project, Fabi Ferro, Ernesto Filho, Fernanda Silva, Ian Habib, Kaetê Okano, Pat Fudyda, Pol Pi, Regis Oliveira. A produção foi contemplada pelo Festival Panorama Raft 2021 e pela coprodução de três instituições francesas, o Ballet National de Marseille, o Latitudes Contemporaines e o La Briqueterie. O Festival Panorama Raft 2021 ainda conta com coproduções do Teatro Municipal do Porto, Pact Zollverein, Vooruit, In Between Time, Vallejo Gantner, Dansehallerne, HAU Hebbel Am Ufer, Gessnerallee, Bates Dance Festival, CCN CAEN en Normandie, Charleroi-Danse, Contemporary Arts Center, Trajal Harrell Company, Festival Transmeriques (FTA), Walker Arts Center, SESC São Paulo. A obra, que tem duração de 40 minutos, estreará dia 26 de setembro de 2021 no canal do YouTube do Festival Panorama Raft 2021, e ficará disponível no mesmo local até o dia 3 de outubro.
O filme E MAR ANHA DO guia travessias e ritualiza memórias de 11 pessoas trans, não-bináries e bixas, corrompendo o cotidiano, aterrando universos e vislumbrando ebós de cura, desabafos, provocações, reflexões, afetos, angústias, revoltas e imaginações de futuros, através da troca de práticas criativas, instauradas em torno de processos de questionamento de gênero por meio de autonarrativas. Exploramos a forma como essas configurações afetam nossas maneiras de nos movermos no mundo e na cena, com foco na experimentação de ferramentas de transições de danças. As práticas compartilhadas durante a criação lidaram com alterações de estados corporais como ignições para pesquisa de movimento, tendo como ponto de partida o espectro das invisibilidades, dos desejos, da coletivização das narrativas individuais, de mergulho e imersão em si e no outro.
Construído por meio de uma quimera virtual, E MAR ANHA DO arregaça a crise de paradigmas não só ambientais e econômicos, como a do próprio ser: não somos bináries, fixes ou úniques no universo, somos teias complexas em perpétuo movimento em mundos bioculturalmente diversos e em metamorfose. Além de potencializar a criação de novas ferramentas artísticas, esta quimera virtual teve um importante papel enquanto criação de rede de interlocução única entre artistas de diferentes contextos e localidades brasileires que muitas vezes encontram-se isolades e criando solitariamente, uma realidade comum para artistas gênero dissidentes que não só antecede a pandemia atual como é por ela agravada.
A partir daí, navegamos rumo a uma investigação de memórias aquáticas, de corpos-bolsas d’água, espinhas vertebrais como ondas-contágio, regiões abissais de passagem para mundos de antepassades e criaturas outras. Nesse vasto ecossistema doce, salgado e amniótico, dançamos nossos corpos em transição, explorando movimentos individuais-coletivos que tangem nossas questões de transformação de gênero e suas intersecções com masculinidades dissidentes, aspectos étnico-raciais e territoriais, dentre outros. Também navegamos por desenhos, caligrafias, cartografias de ações “domestic-specific”, improvisações de som e movimento a partir de textos teóricos, explorações sobre presença, apresentação e decomposição de matérias orgânicas, poesias, estudos sobre drags & monstres, escritas automáticas e rituais para trovoadas, chuva, fogo e transição-do-mundo.
Não se trata de um espetáculo de dança ou de um documentário, mas de um filme cujo formato nasce de nossos desejos de compartilhamento de práticas criativas e de vida. Por meio dele, lançamo-nos no desafio de questionar a linguagem audiovisual através de nossos olhares desconstrutivos, encontrando uma maneira nossa, transitória como nossas danças e existências, de filmarmos e sermos filmades. O compartilhamento de práticas e processos foi assim encarado enquanto obra, pois o que nos interessa e nos move neste momento é justamente este espaço transitório de reinvenção que questiona os próprios formatos aos quais nos acostumamos enquanto “resultados” validados no contexto da dança contemporânea e da performance.
SINOPSE
E MAR ANHA DO é ritual de transformação através de práticas vivas de dança e criação de seres e mundos, encarnado por 11 performers brasileires trans, não-bináries e bixas. Uma quimera virtual permeada por devires abissais e memórias aquáticas, movida pela pergunta: Como abençoar e enfeitiçar o mundo para a cura, senão transicionando o mundo?
LOGLINE
Nós nunca nos tocamos.
Mas sabemos que estamos na casa uns dos outros.
Nós sabemos que há muitas canções sem começo nem fim.
Fechamos os olhos e inventamos outro lugar.
Alguém sai do silêncio.
É só uma voz.
Reconhecemos emaranhados de possibilidades.
Abissais abismos do outro.
O microfone não liga.
Você ainda está aí?
Ela indaga a legitimidade da felicidade.
De sua coluna escorreu uma gota.
Nós comeríamos a terra.
Nós somos o outro.
Nós somos você.
SOBRE POL PI
Pol Pi é um artista de dança trans brasileiro radicada na França. Ele está interessado em uma compreensão mais ampla do campo coreográfico, trabalhando em torno de questões sobre memória e temporalidade, linguagem e noções de arquivo e tradução em dança. Graduou-se em Música pela Universidade Estadual de Campinas (Brasil) e possui mestrado em coreografia pelo programa exerce do CCN de Montpellier. Antes de conhecer a dança contemporânea, trabalhou com teatro, música e ópera. Em 2017, fundou a empresa NO DRAMA na França e criou desde então os solos ECCE (H) OMO (2017), ALEXANDRE (2018), Me Too, Galatea (2018) e Là (2019). Pol também trabalhou e se apresentou para Clarissa Sacchelli, Eszter Salamon, Latifa Laabissi / Nadia Lauro, Aude Lachaise, Anna Anderegg e Anne Collod, e é membro fundador do Trans’On’Danse, uma série de workshops baseados em movimento por e para transgêneros, não binários, intersexuais e pessoas em questionamento.
SOBRE DANÇAS EM TRANSIÇÕES
DANÇAS EM TRANSIÇÕES é um coletivo de 11 dançarines-performers brasileires que nasceu de uma residência virtual proposta pelo Centro Cultural São Paulo em 2021. Com participação de artistas trans, não-bináries e bixas residentes em 6 estados brasileiros, o grupo tem mediação e provocação de Pol Pi, coreógrafo trans brasileiro baseado na França.
Distanciamento não significa necessariamente isolamento. Essa experiência coletiva de distância pandêmica se mostrou fundamental para nossas vidas enquanto plataforma de resistência e de solidariedade, permitindo-nos investigar uma convivência cibernética que seja também um sentir e compartilhar a vida, criando e fortalecendo laços entre artistas de diferentes territórios do Brasil que dificilmente teriam se encontrado presencialmente. Escrevemos de Parnaíba, Teresina, Corumbá, Maceió, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São José do Rio Pardo, São Paulo e Toulouse. Além de potencializar a criação de novas ferramentas artísticas, ê coletive tem um importante papel enquanto criadore de uma rede de interlocução única entre artistas de diferentes contextos que muitas vezes encontram-se isolades e criando solitariamente, pessoas que mesmo antes da pandemia já viviam o apocalipse corporal da luta pela sobrevivência. Essa realidade é comum entre artistas gênero dissidentes, e não só antecede a pandemia atual, como é por ela agravada.
O que essa coletividade pode nos dizer sobre a transformação de seres e de mundos em uma época de extermínio em massa, fluxos incontroláveis de microorganismos, apagamento de arquivos, invasões a territórios indígenas, racismo, ações humanas extrativistas e predatórias, aquecimento global e políticas neoliberais extremistas? Se a dança e a performance podem ser ritos e manifestos corporais pela destruição do mundo como está posto, como corpos que potencialmente e diferencialmente estão em transição podem propor uma nova forma de estar-no-mundo? DANÇAS EM TRANSIÇÕES está em busca de ferramentas que nos permitam a manutenção da vida.
Serviço
E MAR ANAHA DO
Coletive Danças em Transições
Lançamento dia 26 de setembro de 2021
Temporada até 03 de outubro de 2021
Local: Virtualmente – canal do YouTube do canal do YouTube do Festival Panorama Raft 2021
Ingresso: Gratuito
Duração: 40 minutos