Cia. Sansacroma estreia espetáculo Rituais de Suspeição no Sesc Pompeia
Crédito da foto: Sheila Signario
Do dia 01 de agosto até o dia 04 do mesmo mês, o Espaço Cênico do Sesc Pompeia recebe o espetáculo Rituais de Suspeição, da Cia. Sansacroma. A pesquisa de linguagem da Cia. fundamenta-se na Dança da Indignação. O conceito surgiu da necessidade e do amadurecimento estético da Cia durante os últimos anos de produção e responde ao anseio de se criar um processo de fruição da dança que dialogue com as questões e interesses coletivos, juntamente com a apropriação de diversos meios de produção artística. Após apresentações no Sesc o espetáculo segue turnê em várias regiões de São Paulo.
Rituais de Suspeição pretende ser um relato, uma cartografia, um escurecimento de todos os atravessamentos que os corpos negros e/ou periféricos vivenciam em seus processos de construção de suas singularidades sendo inseridos na lógica estruturante da falsa ideia de direitos civis universais e racismo cordial.
“Este projeto é importante à medida que consolida os 17 anos de trabalho e produção da Cia. Sansacroma. Ao longo deste tempo, e na perspectiva da estética marginal, a Cia vem fincando raízes de resistência no cenário da dança paulistana”, explica Gal Martins, fundadora e coreógrafa da Cia.
O espetáculo compõe o projeto da Sansacroma denominado Entre corpos negros e homens de bem, baseado na pesquisa de doutorado do sociólogo paulistano Uvanderson da Silva. Com esse trabalho, a Sansacroma pretende refletir acerca do corpo negro e/ou periférico como suspeito, suas “coreografias” sociais para camuflar processos de suspeição e como este corpo atravessa a sua existência na tentativa do acesso à cidadania plena e aos direitos civis.
Além de trazer à tona estigma aplicado às pessoas negras, o projeto procura abordar uma temática que se torna necessária diante das atuais discussões em que a Cia Sansacroma está inserida: o estigma das pessoas negras como suspeitas aos olhos da Lei. Nem sempre isso é percebido pela sociedade, a não ser diante de casos que se tornam notórios na imprensa, como o caso de Barbara Querino, acusada de assalto na cidade do Guarujá, litoral paulista. A modelo foi condenada a cinco anos de prisão, mesmo após provar que não estava na cidade na ocasião. Temos ainda inúmeros casos como Amarildo, sequestrado e assassinado pela polícia, Marielle Franco e Anderson que foram assassinados por denunciar a intervenção federal no Rio de Janeiro são alguns do população negra é condenada injustamente, não só no Brasil, mas como em outras partes do mundo.
O Ritual de Suspeição do negro é mascarado por rotinas e práticas assimiladas pela nossa cultura, sem a devida reflexão. O preconceito racial, sem dúvida, constitui uma violência que, muitas vezes, não apresenta a visibilidade necessária para ser identificada. No Brasil, o preconceito assume a natureza de preconceito de marca, contrapondo-se ao preconceito de origem. Este último é caracterizado pela forma contundente como se apresenta, havendo uma explícita política segregacionista, sem flexibilidades, enquanto o primeiro se manifesta “em relação à aparência, isto é, quando toma por pretexto para os seus julgamentos os traços físicos do indivíduo, a fisionomia, os gestos, o sotaque, havendo mesmo uma tendência de flexibilizá-lo e dissimulá-lo”. Apesar de o mito da democracia racial dar sustentação à concepção de que não há conflitos nas relações raciais no Brasil, todos sabem que existem preconceito e discriminação racial.
No livro Rota 66 – a história da polícia que mata, o jornalista Caco Barcelos divulga uma pesquisa que realizou dentro dos arquivos da polícia sobre vítimas abordadas e mortas em confrontos com policiais. Ele constatou que “O perfil das vítimas: “Homem jovem, 20 anos”. Negro ou pardo. Imigrante baiano. Trabalhador sem especialização. Renda inferior a 100 dólares mensais. Morador da periferia da cidade. Baixa instrução, primeiro grau incompleto”. O tempo mostra que, dentro deste conceito de suspeição, de uma forma geral, nada mudou. Uma pesquisa realizada pela Fundação Abrinq mostra que as vítimas de homicídio no Brasil têm cor. Em 20 anos, o número de jovens negros assassinados aumentou 429%, ante 102% de jovens brancos.
Ficha Técnica
Direção Artística: Gal Martins
Direção Coreográfica e Concepção do espetáculo: Gal Martins e Djalma Moura
Intérpretes Criadores: Aysha Nascimento, Érico Santos, Ciça Coutinho, Flip Couto, Marina Souza, Tiago Begins, Malu Avelar, Victor Almeida e Djalma Moura
Trilha Sonora: Renato Gama
Musicistas Convidadas: Fefê Camilo (percussão)
Figurinos e Adereços: Gil Oliveira e Mariana Farcetta
Projeto e Operação de Luz: Fernando Melo
Orientação de Pesquisa: Uvanderson da Silva
Direção de Produção: Vanessa Soares
Assistentes de Produção: Danilo Santana e Lua Santana
Operação de Som: Danilo Santana
Assessoria de Imprensa: Lau Francisco
Mídias Sociais: Érico Santos
Designers Gráficas: Bárbara Leite, Mafê De Biaggi e Ricardo Pocinho
Agradecimentos: Fábrica de Cultura Jardim São Luís
Serviço
Rituais de Suspeição
Cia. Sansacroma
De 01 a 04 de agosto de 2019
Quinta a sexta, às 21h30 e domingo, às 18h30
Local: Sesc Pompeia – Espaço Cênico
Rua Clélia, 93 – Água Branca, São Paulo – SP
Ingressos: R$ 6,00 (credencial plena), R$ 10,00 (meia) e R$ 20,00 (inteira).
Classificação indicativa:14 anos.
Não tem estacionamento.
Centro de Referência da Dança
Dia 20 de agosto, terça-feira, às 20h
Galeria Formosa Baixos do Viaduto do Chá s/n – Centro Histórico de São Paulo
(11) 3214-3249
Centro de Formação Cultura Cidade Tiradentes
Dia 22 de agosto, quinta-feira, às 20h
R. Inácio Monteiro, 6900 – Conj. Hab. Sitio Conceição, São Paulo
(11) 3343-8900
Fábrica de Cultura Vila Nova Cachoeirinha
Dia 28 de agosto, quarta-feira, às 19h30
Teatro Flávio Império
Dia 31 de agosto, sábado, às 20h
R. Prof. Alves Pedroso, 600 – Cangaiba, São Paulo – SP
(11) 2621-2719
Fábrica de Cultura São Luis
Dia 03 e 04 de setembro, terça, às 20h
R. Antônio Ramos Rosa, 651 – Jardim São Luís, São Paulo
Funarte Sala Renné Gumiel
Dia 06 de setembro, sexta-feira, às 19h
Alameda Nothmann, 1058
(11) 3662-5177
Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso
Dia 08 de setembro, domingo, às 18h
Teatro de Contêiner Mugunzá
Dia 10 de setembro, terça-feira, às 20h
R. dos Gusmões, 43 – Santa Ifigênia