Cia Artesãos do Corpo estreia Tempo Suspenso
Com direção de Mirtes Calheiros montagem fala sobre a questão dos refugiados na cidade de São Paulo e dos efeitos no corpo da perda e da busca de um lugar.
Partir, sem olhar pra trás, sem nada levar. No olhar as últimas imagens da destruição. Será que nos veremos de novo? Dando continuidade ao projeto de elaborar espetáculos, intervenções e performances que provoquem a sensibilidade e a consciência do espectador para temas de interesse no mundo contemporâneo, a Cia Artesãos do Corpo se debruça sobre o tema imigração e estreia TEMPO SUSPENSO no dia 28 de abril, quinta-feira, às 20 horas, na Sala Paissandu, da Galeria Olido.
Contemplado pelo 18o edital do Programa de Fomento à Dança para cidade de São Paulo, a montagem nasceu a partir de inquietações e questionamentos acerca dos efeitos no corpo da perda e da busca de um lugar e sobre a capacidade humana de redesenhar mapas próprios. TEMPO SUSPENSO dá continuidade à pesquisa da Cia. Artesãos do Corpo sobre estados físicos e situações em suspensão e tem como ponto de partida a situação dos refugiados que chegam à cidade de São Paulo e os espaços que os acolhem.
Mirtes Calheiros, diretora do espetáculo, conta que a Cia já olhava para as questões da imigração no mundo e que durante uma apresentação em Portugal, na cidade de Lisboa, houve a certeza do tema para os próximos trabalhos do grupo. “O Mar Mediterrâneo começava a virar um cemitério e aquilo me tocou de uma forma diferente. A questão do refúgio é um desafio mundial e enquanto as nações repetem velhas estratégias de exclusão do diferente, o tempo permanece suspenso”, conta ela.
Escadarias da Pastoral do Migrante
Espaço de residência e pesquisa da Cia Artesãos do Corpo durante o projeto, a Pastoral Migrante em São Paulo, no bairro do Glicério na capital paulista, recebe dezenas de pessoas todos os dias. “Foi nas escadarias, ouvindo a melodia de tantos idiomas, vendo as imagens de seus celulares, e a magnífica capacidade de superar o horror que acabaram de viver, que iniciamos a criação de TEMPO SUSPENSO. Logo descobrimos que suas necessidades prementes de trabalho, moradia e afeto se igualam a de milhares que aqui vivem”, explica a diretora.
A diretora conta que o espetáculo é dividido em duas partes, a primeira, mais sensível e lenta, mostra uma movimentação dos corpos dos bailarinos fazendo um panorama dos deslocamentos e a segunda joga foco na chegada dos imigrantes em São Paulo. Para Mirtes, “o palco é o local de refúgio e acolhimento dessa geografia em trânsito, um espaço onde memórias diversas se cruzam e entrecruzam. No corpo estão os registros dessa incessante procura de um lugar onde seja possível dançar suas histórias, lembranças e ausências”.
Sobre a Cia. Artesãos do Corpo
Criada em 1999, pela socióloga e bailarina Mirtes Calheiros a Cia. Artesãos do Corpo é formada por bailarinos, performers, atores e pesquisadores de artes cênicas, com o objetivo de elaborar espetáculos e intervenções que provoquem a sensibilidade e a consciência do espectador para temas de interesse no mundo contemporâneo. A companhia já participou de festivais em diversas cidades do Brasil e também em Portugal, Bélgica, Itália e Argentina. Utilizando o palco e locais não convencionais como espaços de atuação, a companhia desenvolve uma pesquisa focada na diluição das fronteiras entre dança-teatro-performance e na investigação urbano coreográfica dos processos de influência, alteração e diálogo entre o corpo e a cidade. Tendo com premissa a diversidade e a pluralidade na formação de seu elenco a companhia leva ao palco a cada novo trabalho um mosaico de referências estéticas e de percepções corporais distintas, criando inúmeras possibilidades coreográficas a cada tema proposto.
Atualmente a companhia dedica-se a pesquisa de estados físicos e meditativos que estimulem o intérprete à criação cênico-coreográfica a partir de situações de presença e sua posterior ressignificação para a cena. Essa nova etapa vem sendo construída em uma perspectiva do caminho, buscando entender o corpo em constante processo de construção e desconstrução. A companhia desenvolve anualmente desde 2006 o Festival Internacional de Dança em paisagens urbanas Visões Urbanas com o objetivo de criar mecanismos criativos de intervenção da dança no cotidiano da cidade, esse festival integra a rede CQD – Cidades que Dançam. Entre os trabalhos já apresentados destaque para Desnudar, Dormienti, Senhor Calvino, Valparaíso, Sobre o Começo ou o Fim, Olhar Urbano, Cecília, Cordeiro, Estudos Sobre o Desejo, Teatro na Janela e Espasmos Urbanos. www.ciaartesaosdocorpo.art.br.
FICHA TÉCNICA
Direção e Coordenação Artística – Mirtes Calheiros.
Intérpretes – Ederson Lopes, Fany Froberville, Leandro Antonio, Margarita Ma. Milagros, Mirtes Calheiros e Rodrigo Caffer.
Iluminação – Carlos Gaucho.
Pesquisa Musical e Sonoplastias – Marcelo Catelan.
Orientação “MA” – Michiko Okano.
Professores – José “Sensei” Bueno (aikido), Renee Lenard (chi kung), Toshi Tanaka (do-ho) e Ederson Lopes (yoga).
Objetos de Madeira – Fany Froberville.
Figurino – Núcleo Artístico Artesãos do Corpo com coordenação de Margarita Ma. Milagros.
Fotos – Fabio Pazzini e Carol Cury.
Projeto Gráfico – Bruno Pucci.
Estudos Teóricos – Marcelo Haydu (migração/sociologia).
Residência Artística – Pastoral do Migrante – Missão Paz
SERVIÇO
Tempo Suspenso
Cia. Artesãos do Corpo
De 28 de abril a 1º de maio de 2016
Quinta-feira a sábado, às 20h, domingo, às 19h
Local: Galeria Olido – Sala Paissandu
Avenida São João, 473 – Centro – São Paulo/SP
Ingressos: Grátis
Informações: (11) 3331-8399
Duração: 75 minutos
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos