Após enveredar pela Filosofia, a bailarina põe em cena momentos de sua carreira, faz reflexões e acredita que ‘menos é mais’.
A bailarina Célia Gouvêa está despojada no palco. Aos 50 anos de carreira dedicada à dança, ela tem a certeza que menos é mais. E se recusa a chamar de “espetáculo” seu Alavancas e Dobradiças, chama de “peça de dança” seu mais recente trabalho, que faz duas curtas temporadas em São Paulo: em O Lugar, nos dias 27, 28 e 29 de novembro de 2015 e no CCSP (Centro Cultural São Paulo) dias 11, 12 e 13 de dezembro de 2015.
Em cena, é a própria Célia que relata, em tom confessional, com palavras, gestos e passos, sua trajetória e lembranças e lança a pergunta: “O que é a dança para você?”. E segue além ao questionar a proliferação atual dos relatos pessoais cênicos ao mesmo tempo em que promove um. Em Alavancas e Dobradiças, a artista lança reflexões e apresenta trechos de coreografias de décadas passadas, como C-E-C-I-L-I-A (2001), Assim Seja? (1984), Expediente (1980), Festarola (1988), Romance de Dona Mariana (1989) e Parasha (1998). Aos extratos, conta momentos pessoais que viveu quando da criação e circulação das obras e cita filósofos, mestres e parceiros de cena, tudo ao som do 2º movimento do concerto para violino e orquestra de Philip Glass.
Há dois anos, a bailarina fez um recuo e repensou o que poderia movê-la, impulsioná-la à uma nova criação. Desse momento de busca veio o desejo de concluir algo que havia parado na juventude, mas que poderia subsidiar inquietações: terminar a faculdade de Filosofia, iniciada aos 18 anos, mas deixada para trás para que pudesse seguir com a dança, a paixão mais urgente. Formada em Filosofia em 2012, já se qualificou para o Doutorado na ECA/USP e em dois terminará mais esse ciclo em sua vida.
Por que o nome Alavancas e Dobradiças? Célia responde que “os dois termos apresentam definições como potência e resistência, que juntas geram energia, fator necessário para as mudanças”. A bailarina tem a certeza que o passar dos anos propicia “deixar de lado o que é supérfluo, e ficar com o que importa”. E na obra que apresenta agora, Célia se sente à vontade para citar os filósofos, mestres e parceiras de cena que nortearam, de alguma forma, a construção dessa peça de dança: de Roland Barthes a Maurice Merleau Ponty, passando por Gilles Deleuze e Khrisnamurti; os professores Celso Cruz, Fernand Schiren, Ruth Rachou; os coreógrafos Alwin Nikolais, Maurice Béjart, William Forsythe, Trisha Brown, Merce Cunningham; a poeta Cecília Meireles e das artistas e colegas Maguy Marin e Juliana Carneiro da Cunha, além do físico Isaac Newton, todos citados em Alavancas e Dobradiças.
No palco nu, Célia tem um elemento visual que a impulsiona: o arame, escolhido por ser uma matéria maleável, simples, que pode adquirir diferentes formas, envolve, mas também pode ser imprevisível, como a areia que se move para qualquer lado, sem obedecer restrições. Assim Célia se sente nesse momento, apta a ir para qualquer lado, sem receio de nada.
SOBRE CÉLIA GOUVÊA
Doutoranda no Programa de Pós Graduação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (Doutorado direto). Graduada em licenciatura pelo curso de Filosofia da Faculdade de São Bento (2012). Formada pelo MUDRA de Maurice Béjart, em Bruxelas/Bélgica, voltado à interação entre as várias linguagens artísticas (1970-1973). Foi co-fundadora do Grupo CHANDRA (Teatro de Pesquisa de Bruxelas).
Em 1974, iniciou no Teatro de Dança Galpão, em parceria com Maurice Vaneau, um movimento renovador da dança, através de uma perspectiva multidisciplinar, com o espetáculo Caminhada, saudado pelo crítico Sábato Magaldi como um espetáculo perfeito… Um novo caminho e uma nova linguagem. Foi artista em residência na Universidade de Illinois, em Champaign-Urbana (1977). Criou 60 coreografias, destacando Trem Fantasma e Promenade (1979), no TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) e Teatro Municipal de São Paulo; Expediente (1980), no Teatro de Dança Galpão; Assim Seja? (1984), na ACARTE em Lisboa; Sapatas Fenólicas (1992), no Centro Cultural São Paulo, Danças em Branco (2005), Teatro Cacilda Becker, Rio de Janeiro. Conquistou prêmios de melhor coreógrafa, bailarina, espetáculo, pesquisa e criação da APCA, Governador do Estado, Apetesp e Funarte. Recebeu bolsas de pesquisa e criação do CNPq, auxílio à Pesquisa da Fapesp, VITAE, John Simon Guggenheim Memorial Foundation.
Em 1998 foi agraciada com a bolsa Virtuose, que a conduziu à França, onde realizou duas montagens no estúdio do Théâtre du Soleil (Paris) e coreografou o desfile da Bienal de Dança de Lyon/2000. Em 2006 é contemplada pela 1ª edição do Fomento à Dança da cidade de São Paulo pelo projeto Cidade. Em 2009 seu trabalho nas décadas de 1970 e 80 foi abordado em tese de doutorado na UNICAMP por Silvia Geraldi. Em 2011, sua carreira foi revisitada pelo documentário Figuras da Dança com produção da São Paulo Cia. de Dança. Em 2012, pela segunda vez recebe o prêmio Fomento à Dança da cidade de São Paulo para preservação, organização e compartilhamento do acervo Gouvêa-Vaneau, acessível pelo site www.acervogouvea-vaneau.com.br.
Em 2014 apresentou o espetáculo Alavancas e Dobradiças como convidada de honra da 8º Mostra do Fomento à Dança, que também teve em sua programação a exposição Décadas de Dança – acervo Gouvêa-Vaneau com duas palestras-guiadas pela própria Célia Gouvêa. Ainda nesse ano, a artista foi indicada ao Prêmio Governador do Estado com o projeto de preservação e compartilhamento do acervo Gouvêa-Vaneau. Em 2015, é contemplada pelo 18º Fomento à Dança para circular com a peça Alavancas e Dobradiças.
FICHA TÉCNICA
Coreografia e Interpretação: Célia Gouvêa
Produção: Ação Cênica
Assistente de produção e Iluminador: Rafael Petri
SERVIÇO
Alavancas e Dobradiças
Com Célia Gouvêa
Duração: 50 minutos
Classificação: livre
VIII Mostra Lugar Nômade de Dança
Dias 27, 28 e 29 de novembro de 2015
Sexta às 21h, sábado e domingo às 20h30
Local: Espaço Cênico O Lugar – Sala Norte
Rua Augusta, 325 – Consolação. São Paulo/SP
Ingressos: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia – estudantes, classe artística e terceira idade).
Informações: (11) 3237-3224
Capacidade: 60 lugares
Saiba mais sobre a mostra, clique aqui.
Semanas de Dança 2015
Dias 11, 12 e 13 de dezembro de 2015
Sexta e sábado às 21h, domingo às 20h
Local: Centro Cultural São Paulo – Sala Anexo
Rua Vergueiro, 1000. São Paulo/SP
Ingressos: Grátis (Retirar com 1h de antecedência na bilheteria)
Informações: (11) 3397-4002
Capacidade: 70 lugares