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Ballet Stagium celebra 50 Anos com apresentação no palco do Theatro Municipal de São Paulo

Crédito da foto: Arnaldo Torres

Celebrar os 50 anos do Stagium extrapola o sentido de comemoração, sua visão de mundo marcou tão profundamente a arte brasileira que, como um divisor de eras, separou a história em antes e depois. Brindemos pela beleza e consciência que o Stagium continua semeando, fundamental para nos reconhecermos como território existencial.

Para celebrar esse marco tão importante em sua carreira, o Ballet Stagium se apresenta no dia 04 de dezembro, às 15h, no palco do Theatro Municipal de São Paulo com os balés Memória e Fluorescência, com coreografia de Décio Otero e direção teatral de Marika Gidali.

Tecendo a História

São 50 anos com pés no presente, olhos no futuro e um passado único. São 50 anos dançando o Brasil, a sua gente, o seu tempo. Dançando a violência do Holocausto, a luta dos mineiros do Chile e o garimpo de ouro em Serra Pelada na Floresta Amazônica. Dançando o tango de Astor Piazzolla, a resistência dos índios brasileiros em Kuarup e a ruptura artística e nacionalista dos modernistas de 1922. Dançando o futebol, a América Latina, Coisas do Brasil e Dona Maria 1ª, a Rainha Louca, e a resistência dos escravos nos Quilombos. Dançando a música brasileira. A popular de Chico Buarque a Elis Regina, de Dorival Caymi a Carmen Miranda, de Adoniran Barbosa e Quinteto Violado a Ary Barroso, de Milton Nascimento a Egberto Gismonti e Geraldo Vandré. E a erudita contemporânea de Villa-Lobos, Cláudio Santoro, Almeida Prado e Ayrton Escobar. Dançando a literatura em “A Infanticida Marie Farrar” de Bertolt Brecht, em “Diadorim” de Guimarães Rosa, em “Os Estatutos do Homem” do poeta Thiago de Mello, e o teatro em “Navalha na Carne” de Plínio Marcos. São 50 anos dançando em qualquer espaço. No Brasil, nas Américas, na Europa, na China. No meio da revolução sandinista na Nicarágua ou nas ruínas de Áquila na Itália. Nas favelas do Rio de Janeiro e em uma barca navegando pelo Rio São Francisco. Em escola de samba no Carnaval, em presídios, no parque indígena do Xingu, em escolas públicas ou históricos palcos. Sem preconceito. Sem fronteira. Sem intolerância estética, política ou ideológica.

Outubro de 1971. O Brasil vivia o momento mais agudo da ditadura militar instalada em 1964. A tesoura da Censura agia sobre a imprensa e, em especial, sobre o teatro e a música popular. Márika e Décio tinham necessidade de romper amarras e limites para alcançar um público além daqueles habituais consumidores de dança. No diretor de teatro Ademar Guerra o Stagium encontrou o ponto de referência artístico e intelectual para desenvolver a sua dança. Isso os levou ao encontro de novas plateias, estabelecendo uma troca que consolidou o tripé das indagações a orientar o trabalho da companhia: o que dançar? Para quem dançar? E como dançar? Sem abandonar o rigor da técnica, os bailarinos se impunham ao lado do seu fazer artístico, serem cidadãos comprometidos com o seu país e o seu tempo. 

Como testemunha de sua história, escolho a coragem e a perseverança como os atributos que caracterizam a companhia que vi nascer. Coragem de dançar o Brasil. Coragem de colocar a arte brasileira, sem folclore, em cena. Coragem de enfrentar os períodos mais obscuros da história política do Brasil. Coragem de romper padrões. Coragem de quebrar preconceitos e levar a dança para todas as plateias.

Perseverança para encarar dificuldades, que não são poucas, sem esmorecer. Perseverança para resistir a todas as tentações do glamour que poderiam desviar o Stagium do seu caminho. Coragem e perseverança para desafiar os riscos de ser artista, comprometido com o seu tempo e com os homens do seu tempo, sem ceder à vaidade tola e ao brilho passageiro. Por tudo isso, a dança no Brasil tem nome: Stagium. E hoje, em seus 50 anos, a companhia persevera na coragem de Márika Gidali e Décio Otero.

Oswaldo Mendes

Sobre as Obras

MEMÓRIA

Trazer a memória de um processo significa entrar em contato com a natureza do tempo, num trânsito constante entre a experiência vivida e as percepções que se criam em torno dela. Apresentar instantes da memória do Ballet Stagium neste momento implica em encontrar possibilidades que tornem este processo coletivamente consciente.

FLUORESCÊNCIA

Com concepção coreográfica de Décio Otero e direção teatral de Marika Gidali, “Florescência” tem como matéria substancial o nosso tempo/espaço presente. O colapso que vivenciamos é a demonstração evidente do fato de que o imprevisto sempre muda as perspectivas do inevitável.  Nunca nos sentimos tão distantes e ao mesmo tempo tão unidos, e por outro lado, nunca nos sentimos tão distintos e ao mesmo tempo tão semelhantes.   Diante desta visão, o Ballet Stagium  novamente se posiciona perante este momento de escolhas e de ações. 

A palavra fluorescência advém do vocabulário da física, sendo a propriedade que certos corpos possuem de emitir luz quando expostas a radiações. “Fluorescência” estará propondo um dialogo entre vários pontos de vista, escapando assim do juízo e da ilusão de qualquer tipo de Verdade Última, unificadora ou absoluta. 

Na grande ciranda de “Fluorescência”, os passos e contra/tempos de Maria Betânia, Luckas Foss, João Apolinário, John Cage e Oswaldo Mendes estarão revolvendo e redesenhando o presente, pois é nele que repousa exclusivamente a nossa existência, nos comprometendo a uma viva experiência de Liberdade.

Ficha técnica

Idéia e Coreografia: Décio Otero
Direção Teatral: Márika Gidali
Música: Lukas Fosss, Bethoven, John Cage
Intérprete: Maria Bethânia
Poesia: Pedro Abrunhosa e João Apolinário
Narração: Oswaldo Mendes
Edição da Trilha Sonora: Aharon Gidali
Iluminação: Fernanda Guedelha
Bailarinos: Marcos Palmeira, Ádria Sobral, John Santos, Eugenio Gidali, Pedro Vinicius Bueno, Nathália Cristina, Eduarda Julio, Gabriela Bacaycoa, Tatyane Tieri, Leila Barros e Jonathan Neves.
Estagiária: Bruna Costa
Professores: Raphael Panta, Aline Campos e Iryna Kozareva
Produção: Marika Gidali, Antonio Marcos Palmeira e Fabio Villardi
Agradecimentos: A todos que participaram e continuam nesta caminhada.
IN MEMORIAM – Ademar Guerra e Ademar Dornelles

Serviço

Memória e Fluorescência
Ballet Stagium
Dia 04 de dezembro de 2021
Sábado, às 15h
Local: Theatro Municipal de São Paulo
Praça Ramos de Azevedo, s/n – Centro Histórico, São Paulo – SP
Ingresso: R$ 10,00 a R$ 30,00

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