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Após exibição em Roma, espetáculo 1717 tem única apresentação em Florianópolis

No ano de 1717, pescadores retiraram duas partes de uma estatueta das águas do rio Paraíba do Sul, região de Guaratinguetá (SP). Iniciava ali a construção do mais autêntico símbolo brasileiro de fé e devoção: Nossa Senhora Aparecida.

É na trajetória da santa negra brasileira que o coreógrafo Ricardo Tetzner concretiza, quase 300 anos depois, o espetáculo de dança de salão 1717, que leva para a cena a linguagem da DançaTeatro em sua concepção de criação, estética e investigação corporal. Em essência, é uma obra que traz a dança de salão para o campo da vanguarda e é fruto de extensa e profunda pesquisa.

A montagem recebeu a Chancela Cultural e Artística do Pontifício Conselho do Vaticano logo após sua estreia em 2015 e foi levada a Roma no ano seguinte. No Brasil, foram mais de 40 exibições, incluindo uma temporada no Teatro Cacilda Becker (RJ). Foi também protagonista de um projeto social em escolas públicas de Florianópolis e abriu festivais em todas as regiões de Santa Catarina.

A reapresentação, no Teatro Ademir Rosa, do CIC, integra a programação do 1º Libras em Dança (LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais), que será realizado entre 22 e 29 de abril em Florianópolis pelo Programa de Extensão Sinaliza UDESC: Arte e Formação, coordenado pela professora Natália Rigo. Durante o evento serão oferecidas oficinas e palestras para pessoas surdas, com excedente de vagas disponibilizado para a comunidade em geral.

Ricardo Tetzner, diretor do espetáculo, salienta o protagonismo cênico da Libras, inserido no espetáculo, trazendo o silêncio para o universo da dança. Os bailarinos aprenderam a língua e usam Libras em todos os atos. “Percebemos a beleza poética de se falar com as mãos. Talvez por isso essa união tenha sido tão sublime. Afinal, um espetáculo cujo tema trata da identidade do brasileiro não poderia deixar de fora a segunda língua oficial do Brasil”, completa. Conforme Alexandra Klen, diretora da Dois Pontos, “é nesses detalhes que a companhia manifesta sua missão de educar e inovar através da arte, além de seus valores, como a diversidade”.

História através da arte

Quando a escultura de 40 centímetros, enegrecida pela ação da água, foi retirada da água em duas partes – o corpo e depois a cabeça – e os pedaços foram unidos, a pesca se fez farta. Tal acontecimento foi considerado o primeiro milagre da santa, posteriormente aclamada Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. A devoção pela figura de Nossa Senhora Aparecida em todo o território brasileiro provocou a pesquisa de Alexandra e Ricardo e gerou a primeira montagem da companhia fundada em janeiro de 2015 na capital catarinense.

Para levar o enredo ao palco, quatro atos: Anunciação, Peregrinação, Pedidos e Agradecimento, Destruição e Coroação, totalizando uma hora. Neles, sete bailarinos se revezam, em grupo ou em pares, por coreografias que fundem a cultura musical com o sincretismo proporcionado pelas influências e origens que formam o povo brasileiro. Fundem forró com samba, com danças urbanas e com o cuidadoso improviso dos jogos teatrais, refletindo a diversidade cultural das cidades brasileiras, de todos os tamanhos e regiões, conduzidas por uma trilha sonora enriquecida por composições de Chico Buarque, Betânia, que une Vivaldi e Yo-Yo Ma. Os trajes visualmente ricos – mas não suntuosos – são criações de Beirão, figurinista radicado em Florianópolis. Na composição, Beirão se valeu de tingimentos exclusivos e adereços numa paleta onde predomina o terracota: “a cor da terra e a simplicidade do interior do Brasil” segundo o ele.

O cenário, projetado para o caráter itinerante de 1717, é minimalista, traz uma grande tela de construção que envolve o palco e os dançarinos. Para Ricardo, “são escolhas alinhadas com a temática do espetáculo: simplicidade, esforço e construção”.

A apresentação de 1717 é uma realização da Prefeitura Municipal de Florianópolis, através da Secretaria de Cultura, Esporte e Juventude, da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes e do Fundo Municipal de Cultura e financiada com recurso público oriundo do edital de apoio às culturas 2018.

Ficha Técnica

Coreografia: Ricardo Tetzner
Elenco: Alexandra Klen, Carolina Rögelin, Eliza Moritz, Guilherme Rocha, Leonardo Reis, Natália Rigo, Ricardo Tetzner
Tradução e Interpretação em Libras: Natália Rigo
Figurinos: Beirão Figurinos Cênicos
Vestido de Arame: Josiane WVieira, Gabriel Werlich, Kariny Cândido, Lara Lodi
Cenografia: Alexandra Klen e Ricardo Tetzner
Iluminação: Gabriel Velasques
Edição de Som: Alexandre Green
Fotos: Marco Antonio Perna
Assessoria de Comunicação e Design Gráfico: Angelita Corrêa
Direção Geral e Artística: Alexandra Klen, Ricardo Tetzner

Crédito da foto: Marco Antonio Perna

Serviço

1717
Dois Pontos Cia de DançaTeatro
Dia 25 de abril de 2019
Quinta, 20h
Local: Teatro Ademir Rosa (Centro Integrado de Cultura)
Av. Gov. Irineu Bornhausen, 5600 – Agronômica, Florianópolis – SC
Ingressos: Gratuitos
(retirar nas bilheterias dos teatros Ademir Rosa, Álvaro de Carvalho e Pedro Ivo)
Classificação indicativa: Livre
Duração: 60 minutos

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