Abordagens Somáticas na Dança.
De acordo com Vieira (2015), o termo educação somática começou a ser discutido e legitimado por Thomas Hanna na década de 60, que a conceituou como uma arte e ciência, baseada na sinergia entre consciência, aspecto biológico e meio ambiente. Ele reúne diversas fontes e propostas de outros artistas e profissionais que resulta em artigos que explicam e organizam a área da somática. O pioneiro foi What is Somatics?, cujo conceito explica a arte e a ciência de um processo relacional interno entre a consciência, o biológico e o meio ambiente, entendidos como um todo e agindo em sinergia.
Giorgi (2015) enfatiza criticamente que nenhum dos pesquisadores que propuseram as práticas anteriores à pesquisa de Hanna se intitulavam como educadores somáticos. Suas práticas eram isoladas em um determinado contexto e levavam em consideração as suas individualidades. “De fato, é até mesmo concebível que nunca tivesse existido um movimento somático antes que Hanna introduzisse essa noção no fim da década de 1960” (p.61).
Na Europa esse movimento somático já era conhecido como cinesiologia ou análise funcional do corpo. E mais do que uma estratégia, Hanna passa a desenvolver um campo de validações para suas teorias. Dentro das possibilidades propostas temos o caminho alternativo ao cuidado de saúde e lesões. O trabalho de Pilates é citado como exemplo de reabilitação com soldados após a II Guerra Mundial e pacientes advindo de acidentes e lesões. Porém, é definido pelo código deontológico que a proposta aplicada por mediadores é o coibir diagnósticos de acordo com Vieira (2015, p.129):
“a Educação Somática não substitui nenhuma forma de aproximação centrada diretamente no diagnóstico, no tratamento e na cura, seja em se tratando da fisioterapia, da psicoterapia, da massoterapia, da ergoterapia – ou até mesmo da osteopatia – e de todas as outras formas de tratamento de sintomas e doenças.”
As abordagens somáticas estão ligadas aos processos internos, individuais onde se encontra as relações de consciência e o meio ambiente. O esforço está em alcançar um corpo maleável e que tenha a ciência de que está em transformação constante.
A este estado temos a noção de um corpo integrado em uma unidade corpo-mente. Uma proposta diferente do corpo objeto, mecanicista para operar. Ele está sendo apresentado a novas experiências, sensações e novas percepções. Surge um hábito em busca do soma, corpo vivo, em primeira pessoa como sujeito corporificado, assim possibilitando nova propriocepção súbita. O corpo percebido a partir de si mesmo, como percepção em primeira pessoa.
“[…] O soma, sendo percebido internamente, é categoricamente distinto de um corpo, não porque o sujeito é diferente, mas porque o modo de percepção é diferente – é a propriocepção imediata –, um modo de sensação que fornece dados únicos ( VIEIRA, 2015, p.136). “
Esse indivíduo está sensível a maior consciência interna e até comunicação. Apresenta-se então o corpo pensado que configura aspectos físicos, perceptivos, cognitivos, simbólicos e afetivos. Desenvolve-se duas noções importantes de corpo próprio, eu sou um corpo e a motricidade do encontrar sentido do mover-se que será analisado em paralelo ao espaço/contexto. Segundo Cohen (2012) citado por Giorgi (2015) coloca que o fazer somático no Body Movement Centering também se aplica aos conceitos acima listados e vai além.
Ela está em busca da experiência do olhar para si e não objetiva nas práticas um corpo objeto advindo de meios de produção mas um corpo onde cada indivíduo terá suas necessidades. Cada vez mais os pesquisadores somáticos se apoderam-se dessas abordagens para trazer a consciência corporal e presença.
Com um alcance de uma comunidade de estudantes e seguidores, os saberes somáticos Somatic Knowledge se ampliaram. Foi fundado o ISMETA, a International Somatic Movement Education and Therapy Association, em 1988, na Califórnia, como International Movement Therapy Association (IMTA). O que de certa forma legitima, teoriza, apresenta padrões técnicos, status jurídico, ou controvérsias éticas.
” a formação científica e as preocupações éticas e filosóficas, os aspectos e definições profissionais são processos operantes e coexistentes, dando forma à configuração de disciplinas somáticas graças tanto ao engajamento individual como ao coletivo. (GIORGI, 2014, p.60)”
Atualmente, são encontradas diferentes técnicas como Alexander, Feldenkrais, a Eutonia, a Antiginástica, Ginástica Holística, Bartheniff Fundamentals, Ideokinesis, Body-Mind Centering, Técnica Klauss Vianna, Pilates, entre muitos outros. Todas as técnicas se aplicam em um panorama sociocultural diferente. As abordagens somáticas estão nas universidades gerando diálogos e fomentando toda uma comunidade de pesquisadores a questionar, analisar e criticar os modos de explorar no universo acadêmico. A formatação desenvolvida por Thomas Hanna na educação somática, de acordo com Gorgi (2015), encontra-se no contexto onde se encontrou um confronto as economias euro-americanas de conhecimento e mercado. Pelo menos desde o surgimento de contracultura da década de 1970.
FONTE: SOUZA, Kelly. “Escuta Criativa: A Dança Tribal sob uma ótica das abordagens somáticas.” 2018