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Festival Ensaios Perversos estreia em Botucatu com conversas, performances e pistas comandadas por DJs

Crédito da foto: Anderson Ignácio
Afro Kitwana

Nos dias 26, 27 e 28 de novembro, a Companhia Perversos Polimorfos lança, em parceria com o Espaço OCA – Organização Corpo e Arte, de Botucatu, o ‘Festival Ensaios Perversos’, versão estendida do programa “Ensaios Perversos”, realizado desde 2016, na capital paulista. A escolha de Botucatu para sediar o Festival se deu no sentido de colaborar com a difusão dos espetáculos produzidos na cidade e seu entorno, tendo em vista o número grande de companhias de dança e performance na região. Desta forma, o Festival traz uma amostra significativa, ainda que parcial, da produção em dança, em boa parte oriunda desses polos.

Uma intensa e diversificada programação diária estará distribuída, entre as 18h e as 24h, em três momentos independentes – “Conversas sem Fim”, sempre com um bom bate-papo sobre temas relacionados a ética, política e economia da cultura; “Preliminares”, com a apresentação de espetáculos ou performances; e “Dance Floor”, um espaço-festa com pista comandada por DJ, para fazer todo mundo dançar antes de voltar para casa. A ação propõe gerar ambientes férteis que semeiem estudos, discussões e partilhas artísticas, para colaborar com o fortalecimento cultural a partir do desenvolvimento de redes criativas entre artistas de distintos segmentos e linguagens, bem como a expansão do público promovendo novas formas de sociabilidade.

Fernando Vasques, produtor do Festival de Circo de Botucatu e do Café das Cinco – Encontro de Compositores de Botucatu e do Mundo, é o convidado para abrir o Festival na sexta, dia 26. No ‘Conversas sem Fim’, o ator, palhaço, músico e arte-educador falará sobre “O artista da cena no interior paulista”, abordando os meios de produção, os agenciamentos entre os pares e a sustentação da luta pelos direitos culturais, que ele denomina “exercício da cidadania cultural”, e seus desdobramentos socioeconômicos. Formado em Humor pela SP Escola de Teatro, Fernando Vasques estudou música no Conservatório de Tatuí e é cofundador e integrante da Cia Beira Serra de Circo e Teatro, de Botucatu.

Na sequência, o “Preliminares” reserva dois espetáculos: o Grupo Dan’Bessen, também sediado em Botucatu, com “Caminho do Itãn”, que narra os contos e as danças dos Orixás, e Suzi Arruda, artista eclética, que une em seus trabalhos elementos de dança contemporânea e aérea, teatro físico e música ao vivo, com a performance interativa “Romper as Águas”, uma celebração à maior e mais importante substância da vida humana – a água.

Até a meia-noite, a dupla de DJs Barroca e Fer Parré, que já esquentou pistas em diversas festas entre Botucatu, São Carlos e São Paulo, comanda o ‘Dance Floor’, com o set list “AdoroSom”, recheado de sonoridades orgânicas e eletrônicas, tradicionais e esquisitas, para embalar o corpo e instigar as idéias.

Dança, arte e resistência no interior de São Paulo” é o tema da conversa, que a artista da dança e designer gráfica Flávia Fazzio leva com o público no sábado. Ela, que estudou dança clássica com Janice Vieira, em Sorocaba, e criou, em Botucatu, os grupos Oficina da Dança e Pé de Step, a partir do desenvolvimento de alunos da escola Oficina da Dança, tem muito a compartilhar de sua trajetória de mais de 40 anos desenvolvendo produções e criando meios de diálogo, sobrevivência e resistência fora do circuito das grandes cidades.

O Grupo de Dança Afro Kitwana e convidados apresentam “Liberte-Se”, uma releitura do poema da peruana Victoria Santa Cruz, “Me Gritaron Negra”, que se tornou uma bandeira na luta contra o racismo. De Botucatu, o Afro Kitwana resgata em seu repertório vertentes da música, da dança e da história herdadas de seus ancestrais.

Em seguida, o bailarino e coreógrafo José Artur dança “Sebastiana”, solo com orientação da bailarina Beth Bastos, em que tenta colar as fissuras de um corpo invisível e intermediar a transmissão de uma mensagem para o fantasma da sua avó, Sebastiana Pereira.

Para o ‘Dance Floor’, o DJ Coringanights traz no set “Discotecagem” brasilidades temperadas com beats e batuques orgânicos e eletrônicos, além de influências latinas e jamaicanas, infusionadas por toques de funk, soul, jazz e hip-hop, tudo com muito suingue para ninguém ficar parado.

O último dia do Festival começa com a conversa “Deformação e criação”, com Camila Soares, que parte da perspectiva da deformação, para olhar as invenções de trabalhos artísticos e os modos de vida na/com/sobre a pandemia e construir encontros que nos desloquem através das sensações de tempo, noções de espaço, produções de sentido e formas de comunicar.

No ‘Preliminares’, Ana Carolina Martines traz o experimento cênico “Auto falante”, que explora as camadas em um processo de criação de personagem, no que tange a prática de alteridade segundo a abordagem antropológica, em equivalência ao processo de aproximação mediúnica das religiões afro brasileiras, em especial a Umbanda e o Candomblé, evidenciando o sagrado no nosso dia a dia e também o elemento trágico de seu ocultamento.

A Cia Tropi.Cais entra em seguida com “Jorro, um não-lugar”, experiência física relacional com os bailarinos João Gomes, de São Paulo, e Rodrigo Cardoso, natural de Botucatu, que nasce do encontro dos princípios da Termodinâmica e transita sobre os graus de desordem (entropia) dos sistemas e seus processos de reequilíbrio (homeostase), utilizando a improvisação como técnica-base para reflexões sobre as masculinidades possíveis em tempos de liquidez e incertezas.

Para encerrar o Festival, José Artur retorna à cena, agora como DJ no comando do set “Love Shake”, uma espécie de festa do fim do mundo, onde as músicas vão entrando dentro do corpo, ligam as veias entre a cabeça e o coração, e essa pedra, ora pesada ora leve nas mãos, é jogada para muito longe ainda dentro do corpo, até que as palavras e os beat’s viram a casa em que se quer morar.

Espaço OCA

A OCA – Organização Corpo e Arte foi fundada em 2020, como sede do Coletivo OCO, dirigido pelos bailarinos Christian Casarin e Vinícius Gil, e ganhou, em 2021, espaço de acolhimento de práticas formativas das artes do corpo, para impulsionar a criação artística no interior do estado de São Paulo, sediando coletivos e promovendo encontros entre saberes e práticas da cena de Botucatu. O espaço educacional conta com a parceria do Ballet Paraisópolis, sediado na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo, que entende o espaço OCA como um pulverizador de sua metodologia de formação, em seus 10 anos de existência, por meio do Projeto Garatujas, que acolhe 20 crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social, para formação em dança.

O Festival Ensaios Perversos foi contemplado pelo Edital Proac Expresso – Lei Aldir Blanc nº 60/2020, prêmio por histórico de realização de mostras, festivais e outros eventos culturais, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa,.

Serviço

Festival Ensaios Perversos – em Botucatu – conversas, performances e pista com DJs
Dias 26, 27 e 28 de novembro de 2021
Sexta, sábado e domingo, das 18h às 24h
Local: OCA – Organização Corpo e Arte
Rua Cardoso de Almeida, 960, Centro – Botucatu – SP
Ingresso: Grátis
Formato presencial

26/11

18h – Abertura da Casa
19h – Conversas sem Fim – O artista da cena no interior paulista – Fernando Vasques
20h – Preliminares – Grupo Dan’Bessen (Caminho do Itãn) e Suzi Arruda (Romper as Águas)
21h – Dance Floor – DJ Barroca e DJ Fer Parré – ‘AdoroSom’

27/11

18h – Abertura da Casa
19h – Conversas sem Fim –“Dança, arte e resistência no interior de São Paulo” – Flávia Fazzio
20h – Preliminares – Dança Afro Kitwana e convidados (Liberte-Se) e José Artur (Sebastiana)
21h – Dance Floor – DJ Coringanights – ‘Discotecagem’

28/11

18h – Abertura da Casa
19h – Conversas sem Fim  Deformação e criação – Camila Soares
20h – Preliminares – Ana Carolina Martines (Auto falante) e Cia Tropi.Cais (Jorro, um não-lugar)
21h – Dance Floor – José Artur – “Love Shake”

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