Cia Oito Nova Dança estreia novo espetáculo com inspiração no universo indígena
Desde 2010, o universo indígena vem sendo pesquisado pela Cia Oito Nova Dança. Ele também está presente no espetáculo JURUÁ, que estreia no próximo dia 2 de agosto, quinta-feira, às 21 horas, no Sesc Pompéia. A montagem tem concepção e direção geral de Lu Favoreto, que também está em cena, dançando, cantando e tocando, ao lado dos intérpretes-criadores Roberto Alencar, Eros Valério, Gabriel Küster, Gisele Calazans, Marcela Páez, Raoni Garcia e Andrea Drigo, que assina a direção musical e executa a trilha do espetáculo, ao vivo. JURUÁ faz parte do projeto ESQUIVAS – Perspectivas de um corpo em devir, contemplado pelo 23ª Edição do Fomento à Dança para a cidade de São Paulo.
Lu Favoreto dirige a montagem que se inspira na dança dos Xondaro entre os Guarani e sua presença em contextos urbanos. Além do espetáculo, a Cia realiza uma série de outras atividades em ocupação no Sesc Pompéia
O processo de criação do espetáculo partiu das rodas de xondaro. A dança do xondaro é matriz de treinamento corporal e musical muito presente nas aldeias Guarani. Ela converge luta, dança e música. É nela que os guardiões Guarani se preparam para enfentamentos em que o principal movimento é a esquiva, de modo a não se deixarem capturar pelo inimigo. “O xondaro tem um aspecto muito importante na vida desse povo. É interessante ver que ele concentra estética, espiritualidade e política como se fosse uma só coisa. Observar o ritual por si só já é transformador para nós”, explica Lu Favoreto.
Após a temporada no Sesc Pompéia, o projeto parte em circulação pela cidade de São Paulo com apresentações também da Intervenção urbana ESQUIVA, que faz parte do processo de criação desse novo trabalho.
Criação colaborativa
Apesar de Lu Favoreto assinar a concepção e direção geral, o projeto de criação de JURUÁ é colaborativo. Os intérpretes-criadores partiram da Intervenção urbana ESQUIVA, criada em 2016, que se aproxima dos procedimentos criativos da performance, para ocupar as ruas, praças e espaços públicos. A partir da mesma matéria criativa, o novo projeto nasceu do desejo de friccionar os procedimentos para a criação de uma Intervenção urbana com os passos necessários para a criação de um trabalho para palco. “A Intervenção urbana ESQUIVA e suas ocupações trouxeram uma série de materiais que deram início a um novo processo de construção, passando por escolhas e lapidação do grupo. Na primeira etapa do processo criativo de JURUÁ, laboratórios investigativos de matrizes e temas corporais nos indicaram uma dramaturgia física e sonora que, pouco a pouco, foi sendo experimentada e elaborada. Gosto de pensar no processo criativo como uma deglutição desta matéria criativa de base”, conta a diretora.
JURUÁ finaliza uma trilogia que vem se desdobrando desde 2012, com a criação de XAPIRI XAPIRIPË, lá onde a gente dançava sobre espelhos, que teve a direção cênica de Cibele Forjaz. A pesquisa de campo, procedimento criativo da cia desde sua formação, contou, em JURUÁ, com a orientação antropológica de Valéria Macedo, com imersões e encontros em diferentes aldeias na capital e no litoral de São Paulo: Rio Silveira, Ytu, Pyau, Itaendy, Tenonde Porã, Krukutu, Kalipety e Yrexakã.
Todas essas vivências trouxeram imagens e reflexões que ajudam a contar as experiências do grupo ao longo do processo. “No espetáculo, expomos ao público como o contato com o universo Guarani trouxe aprendizados, afetos e transformações, por isso nos colocamos como juruá (termo utilizado pelos Guarani para denominar o não-indígena), apesar da empatia e do desejo de aproximação”, define Lu Favoreto.
Trilha sonora
Andrea Drigo realiza um trabalho didático de construção vocal e sonora há cerca de 20 anos. Ela aplica esse processo com a Cia Oito Nova Dança desde 2003. Esta linguagem sintetiza o rigor do canto “convencional” e a liberdade da pesquisa dentro de uma abordagem energética da experiência sonora. A voz é vivenciada como veículo de refinamento artístico e sensorial, aguçando a sensibilidade auditiva e poética do indivíduo por meio da investigação da voz, das sonoridades, das palavras e do canto.
Em JURUÁ, Andrea também está em cena e executa a trilha sonora do espetáculo ao vivo, junto aos intérpretes-criadores, uma constante na parceria que tem feito com a Cia Oito Nova Dança ao longo dos últimos quinze anos.
A trilha do espetáculo é toda eletroacústica e foi baseada numa música que Andrea ouviu na pesquisa de campo feita na aldeia Guarani Rio Silveira. “A montagem mostra a presença Guarani na cidade e a eletroacústica foi uma maneira que encontrei de mostrar o encontro entre a cultura indígena com o urbano. Compus uma célula que guia toda as frequências sonoras, que vão ganhando camadas ou abrindo janelas para novos horizontes ao longo da apresentação. Outro elemento muito forte que mostra a relação entre os Guarani e o urbano é o violão. Eles usam muito o violão, mas como um instrumento de percussão e nós trazemos isso para a cena também”, explica Andrea Drigo.
Drigo relembra que ela e Lu têm uma pesquisa conjunta na relação entre som e movimento, que tem continuidade em JURUÁ: “para a Cia, a música é essencial e serve não só para que os bailarinos dancem. O que nos interessa é o ponto de encontro entre essas duas linguagens. Criamos campos de frequência que compõem a cena junto à dança”.
Programação paralela
A estreia do espetáculo JURUÁ, no Teatro do Sesc Pompéia, está inserida numa programação maior da Cia Oito Nova Dança no local, batizada de Ocupação ESQUIVA. A ideia é proporcionar uma aproximação e reflexão do público em relação à presença Guarani em aldeias localizadas na cidade de São Paulo e no litoral do Estado.
Para isso, antes das apresentações, será exibido também o Ensaio audiovisual ESQUIVA, registro realizado por Lucas Keese e Wera Alexandre (Guarani) e editado por Luísa Mandetta. Expõe a pesquisa de campo realizada pela Cia Oito Nova Dança na aldeia Guarani Kalipety em 2015, finalizada com a intervenção dos Guarani no Pátio do Colégio (SP) e a Intervenção urbana ESQUIVA, uma série de 11 ações realizadas em 2016 em pontos estratégicos da cidade de São Paulo.
Também está na programação uma Roda de Xondaro com representantes Guarani, para que o público tenha contato com o ritual que inspirou o espetáculo de dança. A roda acontece no dia 11 de agosto, às 16h30. A programação no Sesc Pompéia tem ainda um bate-papo com lideranças Guarani: Jera Poty e Tiago Karai, mediado pela antropóloga Valéria Macedo, também no dia 11 de agosto, às 18h30, e uma Roda de conversa com o público sobre o processo criativo do espetáculo JURUÁ dia 12 de agosto após a apresentação.
Com a ideia de compartilhar o processo criativo da Cia Oito Nova Dança nesse projeto, Lu Favoreto e Andrea Drigo ministram a oficina JURUÁ – processo criativo em dança e música no Estúdio Oito Nova Dança. Serão abordados os procedimentos realizados na criação do espetáculo, tratando sobre a pesquisa de linguagem corporal, vocal e musical desenvolvida pela Cia Oito Nova Dança. A atividade é direcionada a estudantes das artes, artistas profissionais e interessados em geral e acontece nos dias 11 e 12 de agosto, das 10 às 14 horas.
Serviço – Programação paralela
Ensaio audiovisual ESQUIVA
Exibição 1 hora antes de cada apresentação de JURUÁ, no hall do teatro. Concepção: Cia.Oito Nova Dança, Lucas Keese e Wera Alexandre. Captação de imagens e sons: Lucas Keese e Wera Alexandre. Edição: Luisa Mandetta. Duração: 34 minutos
Roda de XONDARO
Dia 11 de agosto, sábado, às 16h30, na Área de convivência do Sesc Pompéia. Ingressos: gratuitos (não é necessária a retirada de ingressos com antecedência).
ENCONTRO COM GUARANI – bate-papo mediado pela antropóloga Valéria Macedo
Dia 11 de agosto, sábado, às 18h30, na Área de convivência do SESC Pompéia. Ingressos: gratuitos (não é necessária a retirada de ingressos com antecedência).
Roda de conversa com o público
Dia 11 de agosto, sábado, às 22h (após a apresentação), no Teatro do SESC Pompéia. Ingressos: gratuitos (não é necessária a retirada de ingressos com antecedência).
Oficina JURUÁ – processo criativo em dança e música
Dias 11 e 12 de agosto, sábado e domingo, às 10 horas no Estúdio Oito Nova Dança. Duração – 4 horas. Vagas – 30 pessoas. Inscrições – pelo e-mail ciaoito@novadanca.com.br ou pelo telefone – 11 2478-9194.
Ficha Técnica
Concepção e direção geral: Lu Favoreto.
Direção musical: Andrea Drigo.
Criação e interpretação (Cia Oito Nova Dança e convidados): Andrea Drigo, Roberto Alencar, Eros Valério, Gabriel Küster, Gisele Calazans, Lu Favoreto, Marcela Páez e Raoni Garcia
Orientação antropológica: Valéria Macedo.
Orientação dramatúrgica: Valéria Macedo
Figurino: Claudia Schapira.
Criação e operação de luz: André Boll.
Técnico de som: Renato Garcia
Móbile: João Rivera.
Registro fotográfico: Gustavo Saulle.
Criação gráfica e Registro audiovisual: Felipe Teixeira.
Assistente de produção: Leticia Vaz.
Produção geral: Bianca Dorini.
Crédito da foto: Gustavo Saulle
Serviço
JURUÁ
Cia Oito Nova Dança
De 02 a 12 de agosto de 2018
Quinta a sábado, às 21 horas, domingo, às 18 horas.
Local: Teatro do Sesc Pompéia
Rua Clélia, 93 – Pompeia – São Paulo/SP
Ingressos: R$20,00
Informações: (11) 3871-7700
Duração: 60 minutos.
Classificação: maiores de 14 anos.