Gumboot Dance Brasil estreia seu novo espetáculo no palco do Sesc Consolação
Um dos únicos grupos no mundo a pesquisar Gumboot – uma peculiar dança sul-africana realizada com botas de borracha de mineradores – o Gumboot Dance Brasil estreia no dia 23 de março de 2018 no palco do Teatro Anchieta – SESC Consolação, o seu mais novo espetáculo Subterrâneo.
Batendo com as mãos e com os pés em suas botas de borracha, treze bailarinos realizam um grande percussão corporal acompanhados de uma banda que executa a trilha sonora ao vivo. Eles surpreendem ao apresentar ao público um espetáculo que adentra a realidade de mineradores explorados na África do Século XIX e a população pobre e periférica do Brasil atual. Trabalhadores em condições degradantes lutando pela sobrevivência saciando os donos das riquezas, sem nunca enriquecer.
Destaque na cena da dança brasileira por ser o único grupo no país a trabalhar a dança através de uma pesquisa com botas de borracha, o Gumboot Dance Brasil apresenta Subterrâneo, que faz referências à ancestralidade, à história e às memórias de um povo que, embaixo da terra, lutou por sua sobrevivência e por riquezas que jamais seriam dele. E faz um contraponto com o Brasil de hoje, onde, assim como nas minas da África do Século XIX, a população pobre trabalha em condições degradantes lutando pela sobrevivência saciando os donos das riquezas, sem nunca enriquecer.
O Gumboot surgiu na África do Sul no século XIX, quando foram descobertas minas de ouro e de diamante por lá. Sul-africanos de etnias diferentes foram forçados pelos colonizadores Holandeses e Britânicos a trabalhar nessas minas, em condições degradantes, sem ao menos conseguir se comunicar por não falarem a mesma língua (a África do Sul tem cerca de onze línguas oficiais).
Subvertendo o meio ao qual estavam submetidos, eles inventaram um jeito de se comunicar sem precisar recorrer ao idioma falado. Descobriram que o batuque das botas, canto e gritos eram a solução para que pudessem se expressar.
O Gumboot é uma dança sul-africana em que os dançarinos utilizam botas de borracha para produzir sons enquanto executam coreografias batendo com os pés e com as mãos, produzindo uma comunicação potente e poética. O ritmo é marcado pela batida nas botas e pelas canções.
Segundo Rubens Oliveira, diretor do grupo e entusiasta dessa técnica – havia diversas simbologias que simplificavam essa comunicação como a “saudade da família”, o trem que os conduziam às minas e a própria iniciativa em se divertir por mais que estivessem em condições insalubres de trabalho. “A coerência de sons e ritmo foi amadurecendo e aos poucos transformaram a ‘comunicação das botas’ em dança”, sintetiza o bailarino.
O Gumboot Dance Brasil foi criando em 2008, a partir de Rubens que trabalhou com Antônio Nobrega, Inês Bogéa, Susana Mafra, Benjamin Taubkin e atuou por oito anos na Cia Teatro Dança Ivaldo Bertazzo, onde conheceu o Gumboot por meio do grupo Kova Brothers, da África do Sul.
Interessado na pesquisa sobre Gumboot foi à África do Sul para intensificar sua pesquisa direto na fonte. No seu retorno ao país, formou o Grupo Gumboot Dance Brasil, que desde então tem passado por diversas cidades apresentando e ensinando a técnica.
Em seu primeiro espetáculo (criado em 2010) contou com a participação da banda Afroelectro e seguiu os passos do Gumboot tradicional, exatamente como aprendeu na África. Mas ao intensificar a pesquisa, se deu conta de que não precisaria se inspirar nas histórias dos mineradores da África do Sul para criar.
Com YEBO, segundo espetáculo (criado em 2013), utilizou a própria história do Brasil para desenvolver e aprimorar a pesquisa, que foi se atualizando e se harmonizando de acordo com os corpos dos dançarinos, ficando cada vez mais consistente.
Graças ao histórico corporal de cada integrante e distintas formações, que transitam pela capoeira, balé clássico, dança indiana, breaking, dança contemporânea e teatro de rua, o que vai para o palco é uma dança mista, rica pela diversidade e expressões, que transparece a variedades de corpos aglutinados num trabalho de pesquisa ímpar e totalmente brasileiro.
Agora, o grupo dá um novo passo em suas pesquisas e propõe um diálogo entre a África do Século XIX e o Brasil atual, uma conexão com as atuais desigualdades sociais com as quais convivemos.
A temporada de estreia do espetáculo Subterrâneo tem a realização do SESC-SP.
Sinopse – Subterrâneo
O espetáculo traça um paralelo entre a experiência dos mineiros africanos do século XIX e a sobrevivência da população negra e periférica das grandes metrópoles brasileiras nos dias de hoje. Suburbanos explorados cotidianamente, com suas memórias sendo soterradas e suas vozes abafadas por um regime de extermínio que avança sistematicamente. Como sobreviver? Como ressignificar o cenário e resgatar a humanidade dentro de uma estrutura tão repressora e historicamente violenta?
A voz que ecoa na caverna é a mesma que faz a travessia pelas ruas da cidade. As cores e a dores também são as mesmas. A motivação uma só: VIDA para ser celebrada com toda sua potência, originalidade, ancestralidade, memória e verdade. O manifesto: O corpo, a voz, o canto, dança e o coletivo forte e vivo.
Ficha técnica
Diretor e coreógrafo: Rubens Oliveira
Direção Musical: Lenna Bahule e Rubens Oliveira
Trilha Sonora Gravada: Lenna Bahule, Alysson Bruno e Rubens Oliveira
Roteiro: Naruna Costa e Rubens Oliveira
Dançarinos: Danilo Nonato, Diego Henrique, Fernando Ramos, Munique Mendes, Naruna Costa, Pâmela Ammy, Rafael Oliveira, Rubens Oliveira, Samira Marana, Silvana de Jesus e Washington Gabriel.
Músicos: Mauricio Oliveira (percussão e sax), Kiko Woiski (baixo) e Rodrigo Braganc (guitarra).
Figurino: Danilo Maganha
Cenário: Karen Furbino
Cenotécnicos: Alexandre Souza e Rager Luan
Pintura de Arte: Edna Nogueira
Design de Luz: Melissa Guimarães
Operação de Luz: Melissa Guimarães
Operação de Som: Felipe Atta
Assessoria de impressa e Comunicação: Luciana Gandelini
Assistente de produção: Washington Gabriel
Produção Geral: Kelson Barros [Cazumbá Produções Artísticas]
Crédito da foto: Zarella Neto
Serviço
Subterrâneo
Gumboot Dance Brasil
De 23 de março até 01 de abril de 2018
Quinta a sábado, às 21h, domingo, às 18h
Local: Sesc Consolação
R. Dr. Vila Nova, 245 – Vila Buarque – São Paulo/SP
Ingressos: R$ 12,00 (usuários do Sesc e comerciários), R$ 20,00 (meia-entrada), R$ 40,00 (inteira)
Informações: (11) 3234-3000
Duração: 60 min
Classificação: Livre